A Felicidade devia ser abrangente, extensiva, cobrir espaços, pessoas, de forma que a área fosse infinita.
Impossível de calcular, tal a universalidade indeterminada.
Hoje, na aula, inquiri um aluno com olhar triste, circunspecto:
- Porque não fizeste o trabalho? – Perguntei-lhe intrigado.
Resposta do rapazinho: - Tenho a minha mãe no hospital. – Disse, desconsolado e aflito. Continuou: - Não consigo pensar senão nela. – Concluiu, com os olhos arrasados de água.
Fiquei em silêncio! Fico sempre em silêncio quando o silêncio exige compreensão e consolo.
Permaneci assim alguns segundos. Olhando-o. Só olhando-o!
Esbocei um gesto, uma atitude preocupada e consegui meigamente insistir:
- O que se passa com a tua mãe? – Esforcei-me por proferir.
Cabisbaixo, lá disse: - Está no hospital na Suiça. Eu estou com os meus avós. Vivo com eles.
Debrucei-me sobre o Mundo que era aquela criança e, ternamente, pedi-lhe desculpa.
Depois, abracei-o, sentindo abraçar o Universo e meditei.
Mais um, a quem a vida não sorri. Mais um desalento absurdo de existir, de viver uma vida que deveria ser para viver. Viver em felicidade!
Pensei cabisbaixo, sentindo – me atentamente observado por Deus: - Mais um Herói da vida. Um Herói que tudo merece.
E, o trabalho em falta?
Quero lá saber do trabalho! Que se dane o trabalho!
Quero é saber da criança. Quero é saber da mãe da criança. Quero é saber do Mundo desta criança.
Nada mais!
Sinceramente! Penso naquela criança. Penso naquela vida! Penso naquele Mundo!
E, penso para mim: “É injusto. Profundamente injusto. Porquê?”
Sinto um vazio mexer-se. Mexer-se em mim, por uma ausência de lógica.
Esse vazio sinto-o por ser inexplicável. Essa ausência de lógica sinto-a por ser incompreensível, por ser ilógica, não o devendo ser.
Porquê? Porquê? Meu Deus!
Só sei uma coisa: - Nunca mais lhe perguntarei pelo trabalho! Podem crer!
Se um dia, mo entregar, ficarei feliz. Muito Feliz!
É porque tudo estará bem!
Pena. Diário de um Professor. Março.2007