Ganho tempo. Muito tempo. A observar a noite. As suas sombras inconfundíveis.
Presentemente habito a noite. Moro nela. A noite alberga-me. Acolhe-me. Abraça-me.
Os ponteiros dos relógios pararam há muito, para mim. É tarde, não vejo como.
Sinto que vai ser mais uma noite branca. A escuridão acolhe-me no seu seio de ternura.
Essa escuridão de que falo e sinto, provoca-me uma angústia enternecedora que se suporta aprazivelmente. Conquistou-me. Enlaçou-me. Absorveu-me. Fez dar vida às palavras. Aos actos. Ao ritmo cardíaco de existir. Faz pulsar forte o coração. O pensamento. O que vai em mim. Não admite, não consente, a fadiga. A eterna fadiga!
Olho à minha volta. A escuridão alumia-se por entre uma melodia e uma lâmpada acesa.
Olho, de novo.
Sinto necessidade de dar vida ao sonho. Belo. Incontestavelmente, belo! Sentido. Vivido.
Costumo mimar a noite. Falar-lhe ao ouvido carinhosamente.
Costumo nunca faltar à noite. Não! Nunca lhe faltei. E, ela a mim! Nunca!
Angustia-me pensar, sentir, um dia fazer-lhe algum mal. À Noite!
A noite reflecte o que sou! Partilho com ela, com a sua imensa escuridão, a melodia encantada da vida. De viver. De viver dentro do sonho!
Sem a noite, morreria! Morreríamos todos, creio. Mas, eu principalmente!
Morreria por não suportar a dor. Intensa. Sofreria, até sucumbir nos seus braços de acolhimento e amparo estendidos maravilhosamente para mim.
Braços doces. De magia.
Que enfeitiçam. Que nos faz sonhar. Sonhar o possível. Sonhar o impossível.
A noite fala-me. Diz tudo. Tudo o que lhe vai. Tudo o que me vai.
A noite dá vida à vida!
E, eu não prescindo dela.
Quatro paredes. Uma melodia terna. Uma porta. Um lápis. Um papel. Uma lâmpada.
A escuridão arrebatadora que se exprime e que nos presenteia.
Cúmplice do sonho. Da vida.
Amo a noite!
Sem ela, morreria. Morreríamos todos.
Mas, morreria eu, principalmente! Em primeiro lugar!
Obrigado noite!
E, obrigado pelo que és, pelo que sou!
Obrigado!
Eternamente grato, noite!
Porquê?
Simplesmente, por seres noite!
Pena, Uma Noite Branca de Encanto. Março.2007