Sabem, nutro grande admiração pelos trabalhadores de construção civil.
Também têm sonhos. Dias bons e dias maus. Riem e choram com lágrimas verdadeiras. Daquelas lágrimas escondidas no suor com que se dedicam ao seu trabalho.
Não fui bombeiro. Não fui policia. Não fui aviador.
Não possuo qualidades para ser psicólogo. Nunca o fui. Nunca o serei.
Sabem, tenho uma obra aqui ao lado. Trabalham lá pessoas. Pessoas que, se metem, ingenuamente, com toda a gente. Dão pirocos às princesas que por eles passam. Elas sorriem, só para si. Com compreensão. Escondem o valor incálculável do piropo.
Creio que lhes perdoam as palavras, o coração, a sinceridade, que neles vivem.
Rostos sofridos, suados, cansados, doridos pela dureza do trabalho que, secretamente, nunca revelam a ninguém.
São assim. Habitam neles com sinceridade.
São artistas. Levantam-se muito cedo. Com o raiar da madrugada. Vestem roupas rôtas e gastas que os dignificam. Roupas para o seu árduo trabalho. Eu sinto que transportam uma dignidade. Uma dignidade enorme.
Bebem cervejas atrás de cervejas, para lhes dar paz e força, garra.
Mesmo com tudo isto, querem viver. Porque, também têm o pleno direito a viver. A sonhar. A encantar.
Escutem, como não tenho geito para nada, já pensei em "alistar-me" e entrar para o seu Mundo!
Creio, que nem geito teria para isso. Não sou um deles, embora gostasse. São puros Artistas que vivem com a Arte. Que amam a sua Arte sofrida. Que a transportam consigo com carinho e amor.
Já pensei falar com eles. Para quê? Para fazer parte deles. Para constarem em mim.
Pelo valor que vai neles.
Se não fosse Professor, ambicionava ser "trolha". Não brinco com coisas sérias, pessoas sérias. Nunca brinquei.
Vou pensar, seriamente, nisto.
Tenho a plena sensação que adoraria.
Remeter-me - ia ao meu mundo. Poderia encontrar o meu mundo em mim. Na pacatez do que sou.
Não sirvo para nada! Tenho "entrancadas" em mim dúvidas. Muitas dúvidas do que sou.
Eternamente duvidoso do que amo, sinto, quero e desejo.
Desculpem, sou o que sou. E, sou muito pouco.
É, por isso, que gostaria de ser outro, encontrado em mim.
Só sei que gostaria de ser e, não estou a brincar com coisas sérias: trabalhador da construção civil.
Descansaria em mim.
pena.Junho.2007. "Um sonho".