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Tuesday, June 19, 2007

Aquele "Brilhozinho" era Diferente. Era Especial!


Aquele "Brilhozinho" era Diferente. Era Especial!


No alcatrão da estrada fazia-se calor. Ludibriei-o com coragem, mas sem excentricidades ao volante.
Acelarei um pouco o veículo, dando-lhe competência para o fazer, credibilidade e, conduzindo-me até ir parar a uma aldeia não ignorada, que sempre me trouxe boas recordações e encantos.
A minha Aldeia amada e estimada de sempre!
O seu nome repousa em mim secretamente, por amor a ela.
Os campos, outrora trabalhados com ardor, asseados, cultivados e resplandecentes, estavam agora desertos. Abandonados. Ao triste acaso.
Os seus habitantes haviam-se "levado" para o estrangeiro na busca de melhor qualidade de vida. Entendo esta atitude na perfeição e, compreendo a ânsiedade do gesto das suas gentes sofridas, pondo-o em prática, em evidência visível, tentando levar a cabo um acto concretizado numa profunda dor. Destaco: Numa profunda dor! Só eles a saberâo, mais ninguém. Confidências silenciosas guardadas para si.

Senti um aperto no peito. Que saudades do tempo do passado! Como tudo estava agora diferente!

O empedrado da estrada era mais um caminho acidentado repleto de buracos e fissuras perpétuas. Tanto havia sido prometido àquelas gentes, um asfalto condigno, quando das eleições para a liderança da autarquia.
Promessas. Só promessas! Que enganam um povo sincero, humilde, trabalhador e honesto.
A casa, a casa que fora de sonho em tempos idos, não aparentava nem por sombras, o que viveu, as conversas que escutou, as confidências que as suas paredes sigilosamente guardam e continuarão a guardar para si. Só para si. Só para o seu interior. Necessita com urgência de arranjo. Está quase a desmoronar-se e não o merece. Nunca!
Dei a volta com o automóvel no chamado Largo do Relógio, cuja designação dá o nome ao Largo, sem o ver. Havia desaparecido. Teria "sido levado" também? Como era ancestralmente belo e propriedade dos seus habitantes, que falava pelo sol a hora do dia, pude constatar algo perturbado e intrigado, pela sua ausência soprada em mim. O Largo perdera um amigo do peito, a sua maior significação e, companhia inseperável, de um tempo infinito que não pára.
Eu, parei.
Para meu espanto, vieram três pessoas, silhuetas humildes e olhares de espanto, ao meu encontro.

Eram as "três" uma família enorme. Para mim, eram!

Saudaram-me. Verifiquei com admiração que me olhavam, olhar bem direito e levantado. Adorei!
De imediato, sem dar tempo a que pudesse esboçar qualquer gesto, conduziram-me a uma casa em construção. A casa sonhada. A casa ambicionada. A casa que sempre ambicionaram na sua rica imaginação de pobres economicamente, mas ricos e gigantes nos sentimentos e formas de ser.
Deixei-me levar. O que me estava a acontecer era enternecedor, mágico de encanto que causava um imenso bem-estar e alegria, que não lhes ocultei. Nunca o faria, por amor a tanta bravura, a tanta luta, a tanta felicidade.

Notei o jovem. Não teria mais de treze anos e frequentava a escola, sem nunca esquecer as lides do campo e a ajuda à família em tudo.
Tinha um computador! Um computador onde escrevia. Disse-me que a sua vida também morava e passava por aquele aparelho. Pago a prestações com suor e trabalho fora do tempo passado na escola.
Escrevia.
Escrevia nele. Escrevia sonhos. Escrevia histórias.

Na casa, que crescia aos poucos, lentamente, tinha os seus livros e os seus sonhos.
Requisitava-os na escola e lia, sôfregamente, à luz de uma lâmpada difusa e pouco clara, à noite, para os entregar de novo dentro do prazo estabelecido, sem pagar quiasquer multas.
Notei-lhe inteligência, vivacidade, amor aos seus e amor aos sonhos, que passavam por aquele computador. Por aqueles livros. Pelos rascunhos da sua escrita.
Sim! Fiquei deslumbrado parecendo ir desmaiar de alegria e arrebatamento.
Falou...Falou...Falou...Encantou o que dizia.
E, quando me despedi cordialmente para regressar à pacatez do que sou, sim!, notei-lhe um "Brilhozinho" nos olhos Diferente. Diferente, porque era Especial. Havia neles vida. Inteligência. Alegria. Magia. Sonhos puros. Ideias.
Agradeci a Deus e ao que Ele fez. Agradeci tê-lo conhecido! Agradeci por presenciar um Ser Humano Feliz. Eternamente Feliz!
Quanta Felicidade ia no rosto daquele jovem. No seu olhar destemido e levantado.
Regressei a casa, sempre olhando para trás agradecido a Ele e, pensando:
Jovem, mereces tudo. Mas, tudo!
E, fiquei prostado com este episódio real de eterno deslumbre de uma vida!
Valeu a pena recordá-lo para sempre.
pena. Junho. 2007 "Viajando por Trás-os-Montes"