
Albergo em mim um parasitismo. Só de pensar nele assusto-me. Não é nada fácil de lidar com ele. Está sempre presente em mim. Lado a lado.
Em todo o lado para onde vou. Para a frente. Para trás. Sinto-o constantemente perto.
Exercito-o para que se desapegue de mim a todo o instante. No entanto, mostra-me que é um companheiro para toda a vida, apesar de lhe pedir que me abandone. É fiel, mas uma companhia incómoda.
Sussurra-me coisas que não necessito, só me atrapalham.
Só me complicam. E complicam o que pretendo fazer. Tornam-me inútil e feito de nada!
Sim! Controla-me os actos. As atitudes. Os gestos. A falta de habilidade para o que quer que faça.
Observo-o. Observo-o quando sonho. Rio. Choro. Estou alegre. Estou triste.
Quando trabalho! Sim! Quando trabalho não me ajeito de modo nenhum ao que faço ou projecto fazer, nunca fazendo bem!
Todos comentam o meu parasitismo porque o descobriram. Ele disse-lhes!
Tinha de dizer-lhes, fiel, mas exausto da sua própria presença indesejada em mim.
Tinha-se acomodado, mas tentei muitas vezes, enxotá-lo de mim. Suporto-o, inevitavelmente porque o criei, o construí com as pálpebras apegadas às letras, às palavras.
Ainda mais: criei-o para mim. Para que dialogasse comigo e fosse eloquente e útil em todos os momentos que eu vivesse.
Confesso que o reconheceram. Mesmo assim, ele faz-me sentir bem, o parasitismo, quando abrimos em comum os livros e os lemos e os escrevemos e os falamos.
O arrependimento e os remorsos da traição dele não são fáceis de compreender.
No entanto, regressa sempre ao que sou. Não me larga. Agita-se e acompanha-me.
Até no vazio de mim o pressinto e à sua companhia arrependida.
Traiu-me numa ou noutra situação, mas eu afago-o na mesma, convicto de que não poderia existir sem ele.
Lutei com ele e vivi com ele, juntos, um parasitismo explicável e que valeu a pena pelo que aprendi!
Deu-me o pensamento e com ele as ideias, as palavras, o amor, a estima e o respeito às pessoas.
Em suma, uma dádiva muito importante: o amor e o apego à vida e a vivê-la intensamente.
Um parasitismo nada fácil de abandonar! Mas, sofrido. Sofrimento terno por amor e por amor ao saber e ao conhecimento de mim, das leituras intermináveis noites adentro, para ficar na mesma. Como estou!
Um justificado parasita!
Pena, Agosto 2006












































