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Tuesday, November 21, 2006

Por vezes esqueço-me de mim próprio

Por vezes esqueço-me de mim próprio


Por vezes esqueço-me de mim próprio. Tenho frio e tenho calor. Visto camisolas sobre camisolas e dispo camisolas e camisolas. Nunca estou acomodado e governado para estar bem. Torna-se constrangedor. Torna-se incómodo. Possuo muitas pessoas na minha cabeça. Pessoas! Sim! Pessoas. Isso mesmo, seres humanos! Estão dentro do que eu sou. Estão dentro do que eu penso. Aquietadas. Sofredoras.
Gente de bem. Portadora de sonhos belos, deslocados, de bem e de mal com o mundo. Gente sonhadora. Nunca os esqueço. Preenchem-me totalmente. Habitam alojadas no meu pensamento. Respeito-as. Deixo-as divagar em silêncio pelo que eu sou, porque me enternecem. Passeiam de forma livre. Se não as possuísse guardadas em mim eu morreria.
O vazio da vida que existe em mim, na lembrança e na memória delas, não faria sentido nenhum se não as amasse. Reconfortam-me e eu reconforto-as com toda a ânsia de as auxiliar, de as ajudar. Como se precisassem de ajuda? O nada far-me-ia esquecer de mim.
Por que habitam em mim? Não sei. Desconheço. Talvez, se sintam confortáveis e seguras porque as trato convenientemente. Com carinho e amor. Sim! Desmedidos. Intensamente!
São parecidas comigo. Estão em mim construídas. Moram em mim, no meu cérebro, sempre repleto. Não faço a reciclagem do pensamento delas. Estão diluídas no tempo que percorro. Falam comigo num sussurro destemido por ser autêntico, verdadeiro, sincero. São inúmeras. São muitas. Grandes e pequenas. Convivem entre elas e em mim. Damos a mão reciprocamente porque existe entendimento entre nós, no sossego da dialéctica irreal do sonho.
São afáveis e correctas. Portam-se bem como as crianças. E as crianças têm um valor inqualificável.
Depositam-me o seu pensamento sem cessar. Pensam! Existem! Permanecem vivas porque estão alojadas. Mimadas, porque merecem. Lado a lado. Com ideias. Com a magia da poesia, do sonho, existentes nelas que não permitiram usurpar-lhes, porque lhes pertence. É sua propriedade e, isso, enaltece-lhes e dá-lhes força de viver. Viver no delírio de serem. E eu sinto-me bem. Estão bem alojadas e salvaguardadas. Nada poderá atacá-las ou destroçá-las. Fazem parte do que eu sou.
Sinto que me guardam, que me defendem, que dariam o mais precioso de si para me satisfazerem. São perfeitas num mundo imperfeito. Contudo, agradam-me e é com prazer que as deixo habitarem-me. Bem resguardadas e acomodadas. São como uma família, unida e indivisível em mim. Agarram-se a mim com fervor.
Acreditam que construir sonhos é bom, maravilhoso, único. E, podem contar comigo. Preservá-las-ei enquanto puder e tiver forças! Enquanto existir!
Por vezes esqueço-me de mim próprio e do que sou, num mundo controverso e, por vezes injusto, iníquo e agreste, que elas e eu fazemos por conquistar e minorar, quase sempre sem êxito, sendo recebidos de forma hostil e adversa como a maioria dos momentos o somos. E, eu não compreendo o porquê? Faltam explicar-me, o que é inexplicável. Só é sentido. Presente em mim.
Por vezes esqueço-me de mim próprio!