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Monday, November 06, 2006

Um professor e a pedagogia do amor

Um professor e a pedagogia do amor



Sempre que entrei naquela escola, nunca fiquei surpreendido. Era tudo feito de crianças aos meus olhos. Com ambições. Com desejos. Verdadeiros heróis da vida! Brincam! Aprendem e dão tudo o que têm para aprender. Vestem não para agradar, mas o que lhes dão para vestir. São ternos à sua maneira. Puros! Com sentimentos transparentes que lhes vêm com sinceridade cá de dentro. Também choram quando é preciso chorar. O seu riso e a sua alegria vivem-nos também. Caminham com desembaraço e destreza carregados com pesadas mochilas que lhes parecem falar. São o veículo, o transporte, a bagagem, do conhecimento e do saber que elas contêm. E, eles reconhecem isso, embora os vergue um pouco. Mas, lá vão! Será que vale a pena? São de vários tamanhos. Uns pequenos, outros grandes. Uns são corpulentos, outros franzinos. Uns mais conversadores, outros mais introspectivos. Uns mais amados, outros sem amor. Uns mais arranjados, outros mais humildes. Mas, todos, compenetrados nos seus papéis. E, lá vão! Todos! Irmanados nos mesmos propósitos e intenções, que lhes ensinaram. O dia começa para eles bem cedo. Mal surge o raiar da madrugada, ei-los a caminho, repletos de hesitações por viverem um sonho inacabado que se prolongaria um pouco mais. Olhos piscos, mal despertos. Lavaram a cara ou esqueceram-se de a lavar sem culpa, desapontados e tristes por não haver água. A responsabilidade de todos eles torna-se bem visível e perceptível. Chegam. Em grupo! Sozinhos! Acompanhados! Aturam conselhos atrás de conselhos. Aturam regras atrás de regras. Sorriem porque têm que sorrir. Acatam tudo porque têm que acatar. Sofrem, por vezes, também. Desesperam sem contestarem porque o preço do futuro é assim e tem que passar por ali! Por isso suportam tudo. Dão de si tudo o que têm para dar e não têm para dar. São sinceros. Verdadeiros. Sem maldade que se revele ascorosamente. Vivem na ânsia de ser alguém. A vida exigiu-lhes tudo. A uns, a atenção e o deleite. A outros, uma vida sofrida e amarga. Padecida. Assistem a tudo com a mesma cara de encantar, suja ou lavada. Compostos ou descompostos. Felizes ou infelizes. Sempre todos, lado a lado. Entram na sala. O Educador quer, exige silêncio. Exige compostura. Ele é o dono da aula. O dono do saber, da eloquência. Fala e ninguém ouve. Quer escutar as moscas. É o Presidente da República do saber e da aula! Há que obedecer. Ninguém fala. Não é permitido falar. Aos seus alunos apetece-lhes passar pelas brasas. Abrem a boca. Sussurram baixinho uns com os outros. Não escuta. Não permite a participação. A amizade e a compreensão por aquelas faces encantadoras não as vê. Não consegue ver. A Pedagogia do Amor é inexistente. A empatia na aprendizagem esqueceu-se dela não se sabe onde. A vocação esvaiu-se. Não existe. Se, por qualquer razão vacilam são apontados com desordeiros, como criminosos. Quem dignar-se contrariar a sua autoridade vai para a rua. Será expulso da sala de aula por insubordinação e desinteresse. Por mau comportamento e uma atitude menos correcta. Qualquer pretexto chega. Olham uns para os outros indignados, mas não há nada a fazer. Ele é quem detém o poder. É quem manda ali. E, não há nada a fazer! Infringiram não se sabe o quê, têm que ser duramente punidos. Aceitam porque não têm outro remédio! - É o preço do futuro. – Pensam, como lhes foi dito em casa. E, concordam, sem esboçar o mínimo gesto. Sem esboçar a mínima contestação. Sem terem a mínima ideia ou oportunidade para contestarem porque são crianças. Não têm opinião. Ensinaram-lhes que deviam obedecer aos adultos. Obedecer aos grandes. Respeitar as suas decisões inflexíveis e intransigentes. É raro terem o direito às suas explicações. Às suas justificações. Vacilaram. E, é tudo! – É o custo do futuro! – Pensam, sem contestar. Sem serem ouvidos. Sem o direito às suas explicações. Aos seus motivos! Razões válidas não faltariam, de certeza! Mas vacilaram, quando não se pode vacilar. Transgrediram um pouco, somente! Não se pode! Um pouco que seja, não é permitido. A escola foi feita assim e, assim, deve ser. Sempre foi! As expectativas depositadas neles são enormes. Imensas! Contam com orgulho os progenitores a quem os quer ouvir. Contam que o filho é promissor nos saberes da escola. Outros, menos esperançosos, contam que está a melhorar. – Já o ameacei que vai para o campo! – Exclama, anunciando entusiasmado com a ameaça proferida de descontentamento. Fora escorreito nas palavras porque o campo não interessa a ninguém. - Como se fosse pecado. Até Deus pode castigar. Um agricultor nunca fez mal a ninguém. Apenas sua e trabalha de sol a sol com ardor e honestidade! – Pensa o vizinho que ouviu e sempre enalteceu o seu árduo trabalho da terra, donde se tira tudo o que se pode para se sobreviver. Não compreende. E, eu não compreendo o descuido do relacionamento com as crianças!
É assim! Quando é que os nossos alunos podem respirar livremente e em paz?
A Pedagogia do Amor está aí. Disponível. Pronta a ser utilizada nas crianças que educamos terna e afectuosamente. Só através da dedicação, compreensão e amizade, eles conseguirão entender-nos, respeitar-nos. Só assim, conseguiremos marcar os nossos alunos e fazer deles Homens íntegros participativos e felizes mais tarde nas suas vidas.
A empatia, o carinho e a atenção para com eles pode bem suprimir o custo do futuro!
Ainda bem que penso que a maioria dos Educadores as tem e revela. Para sua tranquilidade e tranquilidade das crianças. A minha intenção sei bem qual é. Eles também sabem, de certeza. Vamos deixar a mente das crianças intocável. Vamos apelar a que as deixem viver no seu estado mais puro de encanto e alegria porque elas são puras e encantadoras! Sempre foram puras e encantadoras!
Temos que terminar de vez, com o custo do futuro das nossas amadas crianças que merecem tudo e tudo aceitam sem protestar. Tudo, mesmo! É só darmos-lhes o nosso melhor. O melhor que temos em nós próprios. Elas aceitá-lo-ão, prontamente!
By Poliedro, Novembro de 2006