Não! Não vou citar Sartre. Não vou dar importância a Albert Camus. Fontes de vida passada.
Talvez, não devesse tocar sequer neles porque podem estimular-me a saudade. O desejo de voltar atrás. O tempo não se controla e faz das pessoas o que elas desejam fazer.
Estive entrincheirado, bem entrincheirado neles. Coisas inabordáveis por serem o que são. Deixam danos. Deixam ideias. Deixam instantes únicos! Fazem sonhar!
O existencialismo que marcou a minha adolescência inconformada, já lá vai. Com ela, com a minha adolescência, foi também o absurdo em que eu vivia. O absurdo a que me entreguei totalmente! Só me alertou a ser um eu! A lidar com o meu eu! A viver na sombra do que sou!
O existencialismo que marcou uma geração, a minha geração, morreu. Não fui ao funeral! Só irei ao meu!
Apesar de me apertar o peito com uma dor incómoda e desagradável, sorri. Tive uma sensação de espécie de liberdade!
Uma espécie de libertação!
Possuo dois filhos adoráveis.
Hoje, é o aniversário do mais velho. Compreende bem porque cresceu e existe vivo na magia do seu lindo Ser.
Não necessito de me preocupar com o que a vida me deu, porque calcei umas pantufas de carinho. As pantufas falam e exprimem bem todo o encanto que eu poderia dizer!
Vivo o dia-a-dia como o raiar belo da alvorada, como vivo o alvorecer do que sinto e penso.
Criei a minha forma de pensar. Criei a minha forma de sentir.
Aprendi a agir com o coração. Aprendi a dedicar-me às pessoas com um fervor intenso. Com uma ternura que povoa o meu existir.
Amo a vida, que não precisa de elogios ou bajulação. Agarro-a e tenho-a ao alcance de mim. Do que sou! Do que sou pela entrega à vida. Minha e dos outros!
Não! Não custou. Cumpri a magia da idade da razão. Da idade perfeita das pantufas. Do bem-estar perfeito que umas pantufas transportam.
Por amor a um eu, por amor ao que construí.