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Friday, May 04, 2007

Um Diário de um Professor


Um Diário de um Professor


É uma hora da manhã.
Está uma noite fria e de invernia que não a sinto.
Não sinto nada!
Sinto que não sinto nada!
Pela janela do espaço que ocupo entra uma luz difusa amarelada, que o enche. Conquista. Faz-me companhia!
Aconchego-me na tosca cadeira que me ampara. Ampara-me quando decido que deve exercitar a sua função de amparo. De aconchego. Em momentos eternos aprazíveis.
Debruço-me sobre o pensamento. Exijo que ele me faça o retrato do dia que passou. O balanço do dia vivido, com fidelidade, sem me mentir. De forma amiga. Repleto de cumplicidade.
Gosto de falar com a vida. Observá-la com dedicação em pensamentos. Pensar com o pensamento na vida. Um pensamento sincero. Aberto. Digno. Verdadeiro.
Quando a noite se dissipou em sonhos, não me dei conta que fôra mais uma noite branca.
Apenas e, só, sentida.
Fui à escola.
Não vi ninguém!
Qual a razão?
Não havia crianças! As suas marcas estavam lá! Eram visíveis! Um silêncio inquietante, por todo o lado, comprovava-o.
Estava demasiada pacatez.
Escutavam-se sussurros de gente feliz.

Onde se encontrava justificada aquela felicidade?

Se calhar eram o silêncio e a pacatez!

Não entendi. Também não era para perceber.

Que alegria sentiriam naquele espaço, sem o mais importante? - interroguei-me a mim.

Fiz o que tinha a fazer e depois, fugi. Apressadamente.
Sem elas, a minha presença era dispensável. Decididamente dispensável.

Havia-me esquecido. Havia perdido.
Havia esquecido e perdido o pensamento das férias.

Não contava.
Não compreendi a traição da minha fiel memória.

E, eu que fui lá só na ânsia de as ver.
Havia perdido o pensamento em pensamentos vagabundos das muitas companhias, que eram as crianças ali.

Por certo, teria o pensamento andado deambulando ao acaso da brisa inconstante e incessante sem amparos. Desamparadamente!

Havia - me traído o pensamento também. O traidor!

A memória e o pensamento. Dois traidores! Andaram sonhando fora de mim.

Não contava. Não contava com esta dupla traição. Nunca sucedera.

Foram infiéis, mas perdou-lhes. Lá foram alumiar alguém, com a luz do seu imenso brilho, tornado deslumbrante e irresponsável.

Tive ainda um momento de sobriedade, para olhar para trás.
Não veio ninguém atrás de mim, felizmente.

Quando cheguei a casa senti um alívio.

Estavam os meus dois filhos! E, isso, é bom. Bom demais.

Sosseguei-me. Sosseguei a vida. Sosseguei o pensamento.
Depois?

Senti uma felicidade enorme. Reconfortante.

Afinal, aqui, podia manter bem vivas a chama de vida e o desejo de pensar.

Senti-me, então, Bem! Senti-me Muito bem!

Pena, Dezembro de 2006