Não sinto nada!
Pela janela do espaço que ocupo entra uma luz difusa amarelada, que o enche. Conquista. Faz-me companhia!
Aconchego-me na tosca cadeira que me ampara. Ampara-me quando decido que deve exercitar a sua função de amparo. De aconchego. Em momentos eternos aprazíveis.
Onde se encontrava justificada aquela felicidade?
Se calhar eram o silêncio e a pacatez!
Não entendi. Também não era para perceber.
Que alegria sentiriam naquele espaço, sem o mais importante? - interroguei-me a mim.
Fiz o que tinha a fazer e depois, fugi. Apressadamente.
Sem elas, a minha presença era dispensável. Decididamente dispensável.
Havia-me esquecido. Havia perdido.
Havia esquecido e perdido o pensamento das férias.
Não contava.
Não compreendi a traição da minha fiel memória.
E, eu que fui lá só na ânsia de as ver.
Havia perdido o pensamento em pensamentos vagabundos das muitas companhias, que eram as crianças ali.
Por certo, teria o pensamento andado deambulando ao acaso da brisa inconstante e incessante sem amparos. Desamparadamente!
Havia - me traído o pensamento também. O traidor!
A memória e o pensamento. Dois traidores! Andaram sonhando fora de mim.
Não contava. Não contava com esta dupla traição. Nunca sucedera.
Foram infiéis, mas perdou-lhes. Lá foram alumiar alguém, com a luz do seu imenso brilho, tornado deslumbrante e irresponsável.
Tive ainda um momento de sobriedade, para olhar para trás.
Não veio ninguém atrás de mim, felizmente.
Quando cheguei a casa senti um alívio.
Estavam os meus dois filhos! E, isso, é bom. Bom demais.
Sosseguei-me. Sosseguei a vida. Sosseguei o pensamento.
Depois?
Senti uma felicidade enorme. Reconfortante.
Afinal, aqui, podia manter bem vivas a chama de vida e o desejo de pensar.
Senti-me, então, Bem! Senti-me Muito bem!
Pena, Dezembro de 2006