Thursday, May 10, 2007
Não colecciono Amigos
Não colecciono Amigos
Na minha turbulenta, mas adorável infância coleccionava cromos.
Coleccionava cromos, muitos! Eram os jogadores de futebol que me apareciam em rifas.
Comprava as rifas e surgia-me o encanto: os meus ídolos que permanecem ainda na minha memória.
Eram fascinantes e preenchiam a minha existência e o meu interminável e indefinido tempo.
Rodeava-me de amigos e, recordo, trocava os cromos "repetidos", num jogo apaixonante de os fazer virar com uma palmada certeira e engenhosa que tornava visíveis os seus rostos bem conhecidos de todos nós.
Quem os conseguisse virar, ganhava o cromo que ainda não possuía. As palmadas repetiam-se dias, seguidos de dias. Instantes seguidos de instantes.
Os cromos e as palamadas tinha Arte. Encanto. Viviam de "toques" subtis, nada fáceis.
Na infância ganhei amor à vida. Amor aos amigos que recordo repleto de saudade e fascínio.
Nunca coleccionei amigos. Não eram cromos que se trocam ou rifas pagas, sabe-se lá como.
Os amigos nunca os "troquei" ou "rifei." Amei-os. É feio "trocar" ou "rifar" aqueles amigos que comportam sentimentos e emoções verdadeiras!
Eram intermináveis, os meus amigos.
Muitos!
A magia da existência ensinou-me a respeitá-los e, eu, respeitava-os. Com toda a minha força e convicção, adornadas e vestidas de reconhecimento.
Aprendi com a vida que são algo de precioso, um tesouro! Um tesouro por descobrir. Um tesouro por encontrar.
Deu-me uma sugestão, a vida. A vida dá-me sempre boas sugestões. E, eu vivo com as sugestões que éla me dá.
Sussurrou-me, assim:- Nunca colecciones amigos! Ama-os no respeito, consideração e estima que vão em ti. Que sentes, porque tens sentidos. Na amizade existente. No amor quando são para amar. Na descoberta de ti, quando são para te descobrir.
Mas nunca, mas nunca, colecciones amigos!
Creio que nunca tive amigos tão sinceros e verdadeiros como aqueles eram. Sorríamos. E, por sorrir, nunca os esquecerei. Eram muitos.
Não colecciono Amigos. Jamais!
O tempo avançou no tempo.
Hoje, sinto que me falta algo: Amigos! Não para coleccionar. Não colecciono Amigos.
Aprendi que não. Não são cromos. Aprendi que não. Não são rifas.
Mas, são sim, para Amar! Para descobrir. Para arrebatar.
E, apetece-me sorrir. Um sorriso de mim para mim.
Só sorrir!
Poliedro. Maio.2007