(Este é um relato real feito à sua jovem namorada por um jovem que "partiu".)
N. sentia-se um Educador. Atento. Lúcido de si.
Possuía duas horas no seu horário lectivo de Tutoria a alunos. "Carentes" de tudo.
Tentava ajudá-los em tudo tentando entregar um pouco de si, somente.
N. sentou-se na biblioteca da escola como era habitual. Aguardava.
Observava tudo à sua volta na busca dos seus "protegidos". "Protegidos" preciosos.
Aguardava dois jovens. Maravilhosos. Que a vida entendeu necessários de acompanhamento. Dedicação.
N. ligou o seu P.C. à tomada eléctrica distante. Os alunos saltitavam ao passar por ele.
Era uma companhia viciante o seu P.C., mas que lhe falava com doçura. Sempre!
Uma encantadora jovem de uns olhos azuis muito vivos de sonho, acercou-se dele. De forma educada. Penso que viu em N. confiança. Entendimento. Compreensão.Afundou-se na cadeira mais próxima de si e sentou-se.
N. viu-lhe o olhar. Conseguia ver nos olhos dos jovens e das pessoas, sensibilidade, pureza, tristeza, alegria. Neste caso, via resignação. Inconformismo. Alegria dissimulada, mas visível. De certeza. Inequívoca e exacta.
A jovem sorriu-lhe amavelmente e disse que tinha algo a contar. A dizer.
N. colocou-lhe o computador à sua disposição. Num ápice surgiu no monitor o seu valioso Hi5. Com uma poderosa e profunda nitidez.
No mesmo instante, contou-lhe uma história real de um amor triste. Muito triste. Feito da vida que o "vazio" abraçou.
N. apurou o seu interesse pelo mundo ali expresso. A magia desencantada com a vida que o comoveu. Não conseguiu evitar despegar-se do seu olhar uma lágrima. Tentou lutar com ela, sem efeitos de sucesso ansiado. Tão desejado.
O namorado já era ausente nela. Do Mundo. Havia "partido" num gesto calculado. Desencantado. De sofrimento.
Havia deixado a vida numa atitude de desespero. Havia-se suicidado.
S. contou emocionada que o seu eleito sofria de uma doença grave/hereditária que consumia o seu enorme Ser aos poucos. Lentamente.
Daí a atitude extrema.
N. arregalou os olhos. Arregalou-os bem. Impotente com a situação. Uma situação de revolta. Pensou em Deus. Levantou voo rumo aos céus em pensamentos e foi prestar-lhe esclarecimentos. Foi ter com Ele e perguntou-Lhe, porque Ele não ajudou. Não interviu. Não solucionou.
Preocupa-me o suicídio nos jovens. De todas as formas. Por qualquer motivo.
Sei lá. Uma conversa. Um diálogo. Um conforto exemplar e compreensivo. Uma ajuda necessária atempada. Pode evitar. Pode entender. Pode ajudar. Pode esclarecer uma dúvida, um pensamento, um sentimento.
Este caso aconteceu hoje. O destino da "partida" tarde ou cedo era inevitável, mas há tantos casos que sucedem por pormenores pequeninos tão significativos para eles. Tão importantes e que lhes dão tanto significado.
Assustam-me, sabem?
Se eu fosse Deus, se o meu mundo fosse o Dele apagaria a dor, o sofrimento, o desalento sentido e devido por amor à vida, acreditem?
Não sou Deus, mas compreendam que me preocupa. Muito!
Oh meu Deus, Ajuda-os. Por favor!
OBRIGADO S. , pela tua imensa coragem!
Pena. Dia 16 de Abril. Biblioteca da Escola. 14h00m. "Um tempo que jamais terminaria pela preocupação de desencanto do que, por vezes, acontece aos jovens."