Sinto-me profundamente atrapalhado. Penso nas coisas mais incríveis e impossíveis de concretizar. Mergulho de cabeça, a pino, como em água cristalina, na cabeça de mim. Só de mim!
Será que a possuo? Real. Minha. Propriedade só do que sou.
Onde fui parar?
Nos confins das pessoas, dos seus pensamentos, das suas emoções. Das suas vidas dignas que vivem dignidade. Imensa dignidade.
Sabem, por vezes, sinto-me irreal. Abarcando tudo e todos, menos o meu eu subconsciente, esquecido. Escondido. Remetido ao que provavelmente sou.
Egoísta comigo próprio. Com conhecimento disso.
Com certezas. Não me relembro sequer dele, do meu eu subconsciente.
Tenho uma ideia como é. Conheço-o como é, apesar de esquecido.
Visível ou invisível na aparência sóbria, lúcida, sensata, como deve ser e, eu, apenas tenho uma vaga ideia dele. Não sei bem se é como o vejo.
Só sei que eu sou e já aparentava que não sabia.
Permanecia ignorado, esquecido, como sempre fui, afogado na limpidez dum lago puro que desde sempre tentou purificar-se e cristalizar-se no tempo infinito e, levado pelas ondas vagabundas, pelas vagas alterosas e conflituosas do que sempre aspiraram a ser.
O tempo, esse, é que não pára. Não estagna. Mexe-se. Evoluí. Avança.
Podem recuar as ondas alagadas do eterno pensar, numa brisa tumultuosa surgida do nada que as confunde e baralha, mas o azul do Firmamento que circunda o que sinto avança sempre, majestoso na incompreensão e irrealidade sentida e vivida.
Parece desabrochar depois da tempestade que já lá vai. Tardiamente. Sem nexo.
Vida, por onde andas?
Tento pegar docemente nela. Embalá-la. Mimá-la. Apertá-la com força e ternura de encontro ao meu peito numa doce carícia.
Reconfortá-la. Afagá-la.
Será que consigo? Não posso pensar só em mim.
E, a existência dos outros? Fica entregue a quem? Não a confio ao acaso. Por divertimento.
Não são para divertir. Por entretimento.
Não vejo como podem entreter. São sérias. Muito sérias, essas vidas. Colocam-me preocupado. Muito preocupado. Demasiado apreensivo.
Precisam que as tratem com seriedade. Paixão. Ternura. Dar-lhes um sentido. Dar-lhes uma significação. Que as façam congratular-se com o afago do grito, quase divino, do deslumbrante nascer que se eterniza em maravilha sentida. Amado.
Se eu não me entendo, como posso eu entender os outros?
Talvez, um heterónimo doce existente e, visível em mim, o consiga. Eu não sou. Vivo na complexidade do conflito, em que sempre e, no fundo, vivi. Penso que nunca o compreenderão, esse conflito. É demasiado singelo e puro na sua imensa complexidade.
O meu conflito. O meu conflito que me baralha e baralha os outros por não o entenderem.
Nunca o compreenderão. Tenho a certeza.
Preciso arrumar o pensamento. Pô-lo em ordem. Torná-lo positivo, optimista mesmo.
Sempre fui um optimista.
Desconheço como? Desconheço a forma? Mas, para ser merecedor da minha vida, da vida que vive em mim e, merecedor da vida vivida nos outros.
Vida, onde estás?
Vida, por onde andas?
Que te aconteceu?
Será que os outros me darão autorização de falar por eles...!!!
Desculpem, sim?
Pena. Março. 03.03.2008. "Numa Segunda-Feira Do Quotidiano De Mim E Dos Outros"