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Thursday, February 28, 2008

Verdadeiros Heróis de Uma Vida Injusta...!!!


As duas débeis silhuetas de pequenitas de pés nus, arranjando um colo para mais três irmãs, sabe-se lá como, suportavam a dor e a miséria, sentadas no chão do empedrado da rua, agora sem vivalma.
Como sempre sucedera.
Como já era usual. À merecê do "deserto" desprotegido da noite que se fazia anunciar.

Haviam mendigado, todo o dia, uma côdea de pão para enganar a fome, a si e, às irmãs mais novas, desamparadas e entregues ao acaso da vida.

Não teriam mais de treze anos de amargura!
Heróis inequívocos de uma Vida feita na rua. Aprendendo com ela de forma brutal, mas sorrindo sempre na sua singeleza desconhecedora da sua condição, perante um mundo indiferente que passa e não pára para vê-las...
Só para vê-las!

Parece que as revejo, deambulando como uma chama ardente e incómoda no meu pensamento.

Eram mais umas crianças da rua, como outras o são, retratando a podridão da sociedade.

A podridão da vida. A podridão do Mundo.

A podridão dos que se sentam nas douradas e aconchegantes poltronas do poder, sem sentir, sem se preocupar, sem esboçar um gesto, algo, só algo, alguma "coisa", para compreender.

"Não sentem nada neles".- Leva-me o pensamento a pensar. Triste.
Estes Seres Humanos desencantados do infortúnio, elas e eles só desejam um pouco de compreensão. So um bocadinho.
Um pouco de atenção por transportarem um mundo em que não é justo viverem...!
Mas, têm que viver. Não nasceram para esta vida , mas ela é assim.
Há tristeza no coração grande e na alma enorme delas, pobres pessoas pequenas, singelas e doces, que agora abrem os olhares para fora delas, porque de pessoas se tratam, embora pequenas.
Pessoas pequenas com sentimentos Enormes.
Com pensamentos Gigantes...!
PESSOAS incómodas...!

Quanto mais sofredoras estas pessoas são por cresceram cedo demais, mais sonhos contêm nelas, enquanto sustentam o sorriso e a alegria de serem.
Entender o Mundo?

Quantos fantasmas inoportunos criados naquelas cabecitas puras e belas?

Simples, mas malfadadas pela complexidade do destino reservado.
E, depois...! Quem é o responsável????

Crianças incómodas da rua…porque incomodam os poderosos, estou certo, mas...!

Todas elas haviam aparecido ao mundo, no desengano e no incoerente sentimento dum amor que existiu. Na verdade, existiu! Foi real e inequívoco, por ser intencionalmente existente!

Um amor entregue com ardor e necessidade à vida…!
Um amor surgido do nada. Um amor surgido na rua...!
Um amor pensado na vida...!

Veio-me às ideias que a indiferença não habitava comigo e conheci uma história.

Uma história real feita de sonhos ternos e infantis! Várias histórias que ensinam…Que marcam… Que merecem ser atentamente escutadas…Compreendidas…
A sua história! A história delas!Como se torna difícil conhecer uma história de desencanto, de dores sofridas que lhes vão lá dentro, bem dentro delas, e falam, falam, falam…sem fim?
Como falam tanto em si, com desenvoltura e paixão para ser devidamente escutadas.
Como falam tanto! Tanto! Tanto!
Sem sequer emitir um som para respirar alento nas palavras e alento para se dizerem perdidas.Totalmente perdidas, mas onde o rancor não surge!
Não sentem rancor. Será que já o sabiam antes de nascer...???

Eu conheci algumas das suas histórias infortunadas e injustas porque elas as conheciam, quando não as deviam de conhecer, porque não deviam ter acontecido com elas.

Com a vida delas!
Absurdo de vida! – Pensei, desabafando comigo, meio incrédulo, meio trôpego.
Esfreguei o pensamento sôfrego e com fúria as emoções mais impensadas, pela discórdia e revolta em me ter comprometido não aceitar as incongruências injustas escutadas, numa cantilena em voz desperta de crianças, que pareciam não ter fim.

Crianças da rua…!Pai alcoólico…Mãe prostituta…As voltas que o Mundo dá!
Inevitáveis...! São vidas...! São formas naturais de vida...!
Difíceis.
Incontornáveis. Irreversíveis.

Crianças totalmente perdidas, mas onde o rancor não surge porque sorriem todo o dia. Sem descansarem. Não têm tempo para a tristeza que sentem.

Belas! Ternas! Conformadas com o destino! Um destino incerto. Um destino que se vai tornar suado, duro!

Mas, saberão?
São inocentes. Puras. Injénuas.

Sim, sabem, mas sorriem.
No seu íntimo, mas no seu mais profundo intimo, creio que saberão.

Só que fazem por se calar…por ignorar…! Por ocultar…!

Mas, sim, sabem-no! Quase tenho a certeza!
Injustiças…!
Injustiças no avassalador requerimento do existir.
Consta nele e numa burocracia que incomoda. Tem necessariamente que incomodar.

Ninguém foi o culpado!

Talvez, a vida…!

Quem sabe? Crianças da rua…!

Como vos amo! Não! Há algo a fazer por elas e por eles que urge celeridade.

Só sei contar histórias…!

Só me resta contar a vossa desafortunada história…por ser Real!

Isso, jamais esquecerei ou conseguirei calar!

Amo-vos! Só sei isso. Isso sei, mas não chega. Nunca chegará...!

Mas creio que isso é importante, muito importante!
Ninguém ousará calar-me.
Não conseguirá!!!!
Acarretam um valioso e pesado Mundo Infantil injusto, quando devida ser justo!
Um Mundo pesado, porque pesado bem, é muito árduo na "balança" da Vida de sonhos inacabados cedo.
Muito cedo!
E, isso, é crime!

By Pena, "Numa noite sem sono." Janeiro de 2007. Publicado no blog:"Esquadria do Desassossego"