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Campanha do Agasalho 2009

Tuesday, March 06, 2018



Recordo.

Sempre me senti absorvido pelo meu eu.
Sempre me observei entregue às minhas “coisas”. “Coisas” de visualizar na minha timidez. Na modéstia avassaladora de mim. Gostava de ser assim. Olhava-me perplexo e atónito. Nunca vislumbrei a existência tão pacata ou tranquila de “vesti-la” com agrado ou aprazível sensação de existir. Viver.
Andava sempre de mochila ao ombro. Nunca me foi pesada. Metia nela sempre o indispensável para sobreviver e “morar” em mim. No que sou. Deambulava pelo mundo ao acaso. Sem fim. Eu era assim.
Ambicionava uma terna e bela emoção rumo ao desconhecido de mochila sempre nas costas, desejando percorrer o Planeta. Era através dum desejo nunca consumado: “Comprar” o “INTERRAIL” e viajar por todo o Universo terrestre.
Permitia-me visitar países desconhecidos de mim. A “fórmula” era a seguinte: Conhecer de dia e Dormir de noite no comboio.
Era um “bilhete” que me permitia, de locomotiva, conhecer o inconhecível. “Conquistar” com facilidade, cidades e cidades europeias e de todo o mundo. Podia deslocar-me a todo o lado neste transporte de sonho.
Nunca o que consegui efetuar. Era caro e o jovem que era não tinha muitos “abonos” económicos que satisfizesse esta atitude de capital pertinência “desenhada” no que sou. “Desenhadas” no mais puro e terno sentimentos de então.
A pensar nestes locais longínquos que calcorreava de mochila às costas, rumei a “Cortegaça”, uma praia na linha de Espinho, onde um “namoro” fugaz e pouco capaz me esperava.
Era um “enlace” majestoso.
Tudo foi um caos. Encontrava-se na praia deste local com a família que me provocou arrepios e desilusão. Pouco tempo estive com ela, mas o meu primeiro amor nunca o esqueci. O despertar para a vida. O sublime ensejo de que existia com ela perto de mim. Timidamente, só deu tempo para um beijo apaixonado. Inadiável. Precioso para mim.
Em breve, foi desastroso. Um incomplexo fim que já era como certo e pleno nas minhas hesitações.
Em breve, continuei a “correr” a minha vida preenchida só por mim. Estava novamente só. Entregue ao que sou e sinto.
Sempre de mochila às costas e à boleia senti-me feliz. Satisfeito. Em paz. Era e funcionava todo o meu ser conformado e visível aos olhos da vida. Da pacatez de solidão. Que não lhe queria mal.
Apenas, tremia ao meu abandono do meu existir precioso e de agradabilidade.
Como se me apresentava a vida que eu adorava.
Eu amava-a. Eu idolatrava-a. Eu mistificava-a.
Recordo.
Foi a minha primeira vez.
António Pena Gil