(Deliciem-se com estes Rennaissance sempre actuais)
Sempre que falo da minha Tia Judite sinto um arrepio. Não sei explicar porquê. A Tia Judite era uma mulher de armas, como se costuma dizer.
Fora sempre muito idosa, mesmo quando tinha poucos anos.
Vinha de Abambres, sempre a pé. Vejo-a na cozinha de casa da minha avó, falando muito alto.
A Tia Judite ouvira sempre muito mal ou era assim que eu a via.
Elevava a voz e falava, falava, falava muito. A sua voz ecoava por todo o lado. Fazia-se ouvir.
Quando entrava, todos sabiam que ela estava lá. A Tia Judite era meiga, atenciosa e prestável com todos. Nunca a vi arreliada ou maldisposta. Tinha uns olhos pequeninos num rosto repleto de rugas.
Já em casa de meus pais, relembro-me de outro episódio com a minha Tia Judite.
Eu e o meu irmão, João, adorávamos dormir. Dormir até quando nos deixassem. Vivíamos num apartamento, junto do Mercado Municipal de Vila Real.
Como era habitual, em dias de feira, a Tia Judite deslocava-se até lá, sempre escorreita e desejosa de lá comparecer, ao mesmo tempo, que aproveitava para nos visitar.
Ora, um dia em que a feira acontecia subiu a escadaria de casa de meus pais e bateu à sua porta com uma energia desmedida, que não passara despercebida aos vizinhos, como sempre o fazia, e chamando muito alto por nós.
Todos ouviram, só nós é que não.
A sua voz ecoou por todo o prédio e aquela habitação até quase tremeu, dado o impacto provocado pelo seu chamamento e pelo barulho manifestado. – “Peninha, Joãozinho, sou eu. Abram a porta!” - Gritou, com todo o seu ímpeto posto na voz.
Bateu uma, duas, três vezes. Chamou uma, duas, três vezes e o seu grito fez-se ouvir por todos os moradores que àquela hora estavam nas suas casas.
Acorreram todos, aflitos. E, eram muitos, podem crer…?
A Tia Judite virou-se para eles e disse, trémula:- “Só podem estar mortos lá dentro! Estão mortos, de certeza!”
Toda aquela gente entrou em pânico, pensando em como abrir aquela porta e como estaríamos nós.
Em voz de comando, a minha Tia Judite ordenou: - “Rebentem a porta! Estão mortos! Estão mortos, de certeza!”
Imediatamente, se juntaram mais pessoas e a porta foi mesmo arrombada e toda aquela gente, conhecida e desconhecida, entrou pelo nosso quarto dentro.
Eram tantos que se apertavam para caber ali. No nosso quarto.
Acordamos de imediato, surpresos e amedrontados. Nunca tínhamos visto tanta gente no nosso quarto. Notei-lhes na expressão um aspecto e um semblante de desilusão, como que dizendo:
“Afinal estão vivos! Estão vivos e bem vivos!
Que chatice!”
De imediato, toda aquela multidão debandou inconsolável, perante a falta de acção no desfecho desta situação e a minha Tia Judite nem nos recriminou e só exclamava, emotiva: - Era o sono da morte! Era o sono da morte!
E, foi assim, que entrou em nossa casa!
(Guardo uma imagem de ternura para com a minha doce Tia Judite. Para ela todo o meu afecto e compreensão. Faleceu com 92 anos de idade. Que Deus a guarde no Céu!)
Pena
Pena. Dia 01 de Janeiro de 2010. 09 horas e 30 minutos.
Oxalá, tivessem tido umas óptimas entradas no ano que começa.
Todo o meu afecto e amizade para convosco, Amigos(as)/Visitantes de sonho.
Agradecer-Vos-Ei Eternamente.
Bem-Hajam, pela simpatia e amabilidade que demonstram permanentemente.
Bem-Hajam. São preciosos para mim.
MUITO OBRIGADO e este Ano tudo de maravilhoso, sim…?