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Campanha do Agasalho 2009

Monday, May 19, 2008

O Lugar Onde Nasci!!! Jamais O Esqueci!!!

No alcatrão da estrada fazia-se calor. Ludibriei-o com coragem, mas sem excentricidades ao volante.


O "desenho" da paisagem era significativo do poder Divino. Só podia.
Acelarei um pouco o veículo, dando-lhe a energia necessária para o fazer, que me conduziu sem fim até ir parar a um lugar não ignorado por mim, mas, de certo modo, esquecido da memória da maioria das pessoas. Aquele pequeno lugarejo, que parecia desabafar, sempre me trouxera boas recordações e encantos.

Sobranceiro ao Douro, situado numa das suas inúmeras encostas que pareciam amparadas pelo rio afamado e fruto de delícias infantis, de adultos de igual maneira, resultado de trabalheiras incansáveis, suadas por gente que é gente. Eu sempre o "senti" e o "pensei" assim.

Lugar ímpar de beleza situado nas encostas do afamado rio Douro sonhado e idolatrado por
muitos e ignorado por poucos dada a sua imensa ternura fantástica e capacidade de "entrada" soalheira de um Sol maravilhoso. De deslumbrar, graças a Deus.

A local amado e estimado de sempre!

O lugar de ontem. De hoje. De amanhã. De sempre.
A vida deu voltas e voltas, mas aquele lugar permaneceu. A vida? Fora-se, mas ficou o espaço. As casas. Os campos. As vicissitudes do seu povo e das suas gentes afáveis. O amor que não tem preço, por ser incomportável! Desmedido. Grandioso.

O seu nome repousa em mim secretamente, por amor ao lugar.
Os campos, outrora trabalhados com ardor, asseados, cultivados e resplandecentes, estavam agora desertos. Abandonados. Ao triste acaso.

Um acto que entendo tão bem. Demasiado bem, por entender a atitude!
Os seus habitantes haviam-se "levado" para o estrangeiro na busca de melhor qualidade de vida. Entendo esta atitude na perfeição e, compreendo a ansiedade do gesto daquelas suas gentes sofridas, pondo-o em prática, em evidência visível, tentando levar a cabo um acto concretizado numa profunda dor. Destaco: Numa profunda dor!

Só eles a saberâo, mais ninguém. Confidências silenciosas e preciosas de um valor intenso e imenso guardadas para si.
Guardados com chave de ouro na lembraça de um dia poderem regressar.
Disso, não tenho a mínima dúvida. A mais breve hesitação
, sequer.
Não me poderia passar pela cabeça outra coisa senão esta.
Senti um aperto no peito. Que saudades do tempo do passado! Como tudo estava agora diferente!

O empedrado da estrada era mais um caminho acidentado repleto de buracos e fissuras perpétuas no asfalto agora deixado ao triste e desamparado acaso.
Tanto havia sido prometido àquelas gentes, um "tapete acolhedor" que lhe desse a vida merecida. Condigna. São assim as eleições para a liderança da autarquia: tudo prometem, nada concretizam.

Promessas. Só promessas! Que enganam um povo sincero, humilde, trabalhador e honesto.
A casa, a casa que fora de sonho em tempos idos, não aparentava nem por sombras, o que viveu, as conversas que escutou, as confidências que as suas paredes sigilosamente guardam e continuarão a guardar para si. Só para si. Só para o seu interior. Necessita com urgência de arranjo. Está quase a desmoronar-se sem o merecer. Sem o desejar.
Nunca!

Dei a volta com o automóvel no chamado Largo do Relógio, cujo relógio de Sol oferece a designação e dá o nome ao Largo, sem o ver, o ancestral relógio.

Havia desaparecido.

Teria "sido levado" também? Como era ancestralmente, exemplo de orgulho das suas pessoas. Acolhiam-no pelo fulgor das horas solares precisas. Exactas. Belo e propriedade dos seus habitantes, que falava pelo sol a hora do dia, pude constatar algo perturbado e intrigado, pela sua ausência soprada e constatada em mim. O Largo perdera um amigo do peito, a sua maior significação e, companhia inseparável, de um tempo infinito que não pára.

Eu, parei.

Para meu espanto, vieram três pessoas, silhuetas humildes e olhares de espanto, ao meu encontro.
Eram as "três" uma família enorme. Para mim, eram!

Saudaram-me. Verifiquei com admiração que me olhavam, olhar bem direito e "levantado". Adorei!

De imediato, sem dar tempo a que pudesse esboçar qualquer gesto, conduziram-me a uma casa em construção. A casa sonhada. A casa ambicionada. A casa que sempre ambicionaram na sua rica imaginação de pobres economicamente, mas ricos e gigantes nos sentimentos e formas de ser.
Deixei-me levar. O que me estava a acontecer era enternecedor, mágico de encanto que causava um imenso bem-estar e alegria, que não lhes ocultei. Nunca o faria, por amor a tanta bravura, a tanta luta, a tanta felicidade.

Notei o jovem. Não teria mais de treze anos e frequentava a escola, sem nunca esquecer as lides do campo e a ajuda à família em tudo.

Tinha um computador! Um computador onde escrevia. Disse-me que a sua vida também morava e passava por aquele aparelho. Pago a prestações com suor e trabalho fora do tempo passado na escola.
Escrevia.
Escrevia nele. Escrevia sonhos. Escrevia histórias.

Na casa, que crescia aos poucos, lentamente, tinha os seus livros e os seus sonhos.
Requisitava-os na escola e lia, sôfregamente, à luz de uma lâmpada difusa e pouco clara, à noite, para os entregar de novo dentro do prazo estabelecido, sem pagar quaisquer multas.

Revi-me naquele jovem sonhador e fiquei extasiado de encanto. Se se regressasse
no tempo:
Era o modesto eu!
Notei naquele pequeno Ser algo imperturbável, algo inteligente, muita vivacidade, muito amor aos seus e amor aos sonhos, que passavam por aquele computador. Por aqueles livros. Pelos rascunhos da sua escrita.
Sim! Fiquei deslumbrado parecendo ir desmaiar de alegria e arrebatamento.
Falou...Falou...Falou...Encantou o que dizia.


E, quando me despedi cordialmente para regressar à pacatez do que sou, sim!, notei-lhe um "Brilhozinho" nos olhos. Aquele cintilar puro e sentido era Diferente. Diferente, porque era Especial. Havia neles vida. Inteligência. Alegria. Magia. Sonhos puros. Ideias.
Agradeci a Deus e ao que Ele fez. Agradeci tê-lo conhecido! Agradeci por presenciar um Ser Humano Feliz. Eternamente Feliz! Humilde, mas eternamente feliz.


E, eu adoro ver pessoas felizes. Fico também feliz.
Não sei se por contagio ou outra coisa qualquer que não consigo definir por se torna difícil de definir.


Quanta Felicidade ia no rosto daquele jovem. No seu olhar destemido e erguido aos céus com valentia, auto-estima poderosa e amor à existência dele e dos outros.
Regressei a casa, sem olhar para trás agradecido a Ele e, pensando:
Jovem, mereces tudo. Mas, tudo!

E, fiquei prostrado com este episódio real de eterno deslumbre de uma vida!

Valeu a pena recordá-lo para sempre.
pena. Junho. 2007 "Viajando por Trás-os-Montes-O Lugar Onde Nasci"!!!