Um crepúsculo de deslumbre, já há muito se dissipou no horizonte.
Observo tudo o que me é dado visualizar do cantinho da minha abragente janela linda. Mesmo linda.
Por espreitar vejo o meu Mundo e o Mundo dos que me querem bem.
E, são tantos!
Não perco tempo. Adquiro em mim muito tempo. A observar a noite. As suas sombras inconfundíveis.
Presentemente habito-a. Moro nela.
Coabito lado a lado com ela. Estabeço laços interpessoais com todos os que me dão algum crédito e valor de que não necessito porque vivem em mim e no que sou.
A noite alberga-me. Acolhe-me. Abraça-me.
Os ponteiros dos relógios pararam há muito, para mim. É tarde, não vejo como.
Sinto que vai ser mais uma noite branca.
Inconfundivelmente alva.
A escuridão acolhe-me no seu seio de ternura.
Essa escuridão de que falo e sinto, provoca-me uma angústia que se suporta. Enlaçou-me. Absorveu-me. Fez dar vida às palavras. Aos actos. Ao ritmo cardíaco de existir. Faz pulsar forte o meu coração. O meu pensamento. O que vai em mim.
Não admite, não consente, a fadiga. A eterna fadiga!
Faz-me sentir bem alerta penetrando no seu seio com alegria e boa disposição.
É minha. Inconfundivelmente minha.
Faço dela o meu sentir e o meu Ser.
Olho à minha volta. A escuridão alumia-se por entre uma melodia e uma lâmpada acesa.
Olho, de novo.
Sinto necessidade de dar vida ao sonho. Belo. Incontestavelmente, belo! Sentido. Vivido.
Costumo mimar a noite.
Costumo nunca faltar à noite. Não! Nunca lhe faltei. E, ela a mim! Nunca!
Angustia-me pensar, sentir, um dia fazer-lhe algum mal. À Noite!
Mesmo eu, não o permitiria! Seria injusto. Despropositado. Incoerente com ela.
A noite reflecte o que sou! Partilho com ela, com a sua imensa escuridão, a melodia encantada da vida. De viver. De viver dentro do sonho!
Sem a noite, morreria! Morreríamos todos, creio. Mas, eu principalmente!
Morreria por não suportar a dor. Intensa. Sofreria, até sucumbir nos seus braços de acolhimento e amparo estendidos maravilhosamente para mim.
Braços doces. De magia.
Que enfeitiçam. Que nos faz sonhar. Sonhar o possível. Sonhar o impossível.
A noite fala-me. Diz tudo. Tudo o que lhe vai. Tudo o que me vai.
A noite dá vida à vida!
E, eu não prescindo dela.
Quatro paredes. Uma melodia terna. Uma porta. Um lápis. Um papel. Uma lâmpada.
A escuridão arrebatadora que se exprime e que nos presenteia.
Cúmplice do sonho. Da vida.
Amo a noite!
Sem ela, morreria. Morreríamos todos.
Mas, morreria eu, principalmente! Em primeiro lugar!
Obrigado noite!
E, obrigado pelo que és, pelo que sou!
Fazes-me tanta companhia que não consegues conceber ou imaginar.
Obrigado!
Eternamente grato, noite!
Porquê?
Simplesmente, por seres noite!
Pena, Uma Noite Branca de Encanto. Março.2007