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Sunday, February 18, 2007

Recordações 2 - "Traquinices inócuas"


Recordações 2 - "Traquinices inócuas"
Recordo os meus amigos de então.
Destaco os meus primos: Paulo e Jonel. Destaco o inconfundível Alfredinho Benfeitor, o Meco, de seu nome autêntico, Américo, sempre temível e o Tero, Antero Valoroso, irmão mais velho do Alfredinho Benfeitor hoje, médico ortopedista com sucesso.
A casa de minha avó era o palco de todas as nossas travessuras infantis.
Recordo a minha avó, fazendo malha, óculos na ponta do nariz e um pouco surda, sentada na ampla sala de estar, contígua à sala de jantar.
A avó Maria era a vigilante das bolachas, existentes numa grande caixa de latão, já gasta.
Observava através de uma enorme janela envidraçada todos os nossos movimentos. Rastejávamos. Um a um.
- Seus ratos. – Ouvíamos, dizê-la. – Se vos apanho...Mas nunca nos apanhou. Rastejávamos silenciosamente por entre a mesa e as cadeiras, abríamos o armário com todas as cautelas e as bolachas desapareciam umas a seguir às outras na nossa boca.
O crime estava cometido!
Quando mais tarde as ia buscar, debalde, dizia:
- De certeza, que aqui há ratos! Ratos, uma praga que terá de terminar! - Exclamava, sabedora, cúmplice e sorridente para com os ratos, que éramos nós.
Nunca nos apanhou com a mão na botija.
Dissimulávamos.
Éramos rápidos, cuidadosos e concisos.
Planeávamos tudo com um rigor calculado até ao último pormenor, como uma operação militar assente numa táctica de ataque bem delineada e preparada ou um computador dotado de uma precisão infalível, ludibriando sempre o imaginário inimigo, rendido à sua incapacidade de vencer.
Pena, Junho de 2004. Recordando…