Gosto de ouvir o silêncio. Sim! Atentamente! Escuto-o!
Os outros? As pessoas? Não sei. Sinceramente, não sei. É fascinante porque parece brincar comigo. Gosto de o manusear, escutá-lo, senti-lo quando entra em mim e me absorve intencionalmente com fascínio.
Não! Não me atemoriza. Não estou só. Tenho-o a ele, só para mim.
Olho à minha volta e tudo é feito de silêncio. Até a casa está a pactuar com ele e comigo, ajuda-o, ajuda-me. Consigo pensar nas coisas mais incríveis e fantasmagóricas feitas de silêncio porque, lado a lado, vou com ele para onde ele me leva. Todos estão mudos, menos ele, que se expressa em mim e comigo na avalanche de sonhos e encantos da vida. É por isso que o escuto em tudo o que me rodeia, em tudo que vejo e faz parte carinhosamente e amigavelmente da minha existência.
Sei que me compreende, porque eu compreendo -o. Não sei se o compreendo, mas ele, tenho a certeza inequívoca que me compreende. Respeito-o! A telefonia calou-se.
As pessoas que amo deitaram-se.
Resta-me escutá-lo e cavalgar na ilusão de que, de tempos em tempos, só eu e ele, o silêncio e eu, unidos, podemos magicamente sonhar na quietude dos instantes, das horas, do descanso dos relógios que pararam para nos dar um espaço de dignidade. O silêncio tem dignidade! Acredito na dignidade e na majestosa importância dele, do silêncio.
Podia-se estudar. Aparecer nos manuais escolares e nos manuais da vida, mas, penso eu, que iriam maltratá-lo, ignorá-lo, não o compreender. Quem é que compreende o silêncio? Só o compreende quem consegue escutá-lo, amá-lo, estudá-lo, enfim, vivê-lo!
Vivê-lo, plenamente.
Não! Acreditem que não tenho nenhum medo de insanidade mental em mim, só por adorar, compreender, estudar e amar o silêncio. Se a tivesse, diria. Mas, primeiro dir-lhe-ia a ele. Ele estava em primeiro lugar, podem crer. Como ele gosta, não lhe digo. Absorvo-o. Delicio-me com ele e com a tranquilidade que me envolve e que ele me dá. Faz-me pensar em coisas incríveis, boas, sinceras, únicas, verdadeiras.
Entro num mundo que me faz sentido. Um mundo de canteiros de flores, jardins, aventura, música, poesia, imensamente bela e resplandecente aos meus olhos. Depois, foi feito para amar sem ruído, numa atitude única de bem-estar e conforto todos os que o escutam, sem protestos, sem exigências.
Deixem-no levá-los, porque estão bem entregues, acreditem!
Não! Ele não faz mal. Faz pensar. Só pensar! E pensar é bom. Pensar, faz acreditar que estamos vivos e compreendemos os mistérios da vida. Os mistérios do amor. Da intransigência violenta. Da hipocrisia egoísta. De quem, por não compreender, nos quer perturbar, sem ouvir, uma única vez, o silêncio.
Ouvir, uma vez só!
Depois, tudo poderá acontecer, porque podem gostar dele, da sua calma, do seu afago, do seu discernimento de poderem livremente pensar.
Eu adoro escutar o silêncio!
Sinto-o! Compreendo-o! Faz parte de mim!
É como um afago sincero! Uma carinhosa melodia escutada, dificilmente transmissível. Só para mim!
Acreditem, porque é!
Pena, Setembro de 2005