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Tuesday, May 04, 2010

Recordações de Infância: A Paixão Infantil Circense!


A Paixão Infantil Circense

Recordações de Infância


Na cave da casa da minha avó Maria aconteciam as coisas mais surpreendentes, mais insólitas, provocadas pela nossa fértil imaginação e intensa criatividade infantis. Era eu, o meu irmão, o Alfredinho e, às vezes; os meus primos: o Raul e o Augusto. Como não nadávamos propriamente em dinheiro, arquitectávamos os mais ardilosos estratagemas para o obter. De tempos a tempos encenávamos, empenhadamente, um espectáculo de Circo.

Sim, porque nós também tínhamos as nossas necessidades económicas e os nossos compromissos monetários, ora, com as guloseimas, ora, com as pastilhas elásticas, ora, com infindáveis passeios, (por vezes arriscados e perigosos, como eram, por exemplo, a ida a pé através dos carris do caminho de ferro à quinta do Alfredinho Bem - Posto, em Alvações do Corgo, colocando o ouvido encostado à linha para pressentir se vinha algum comboio ou, ainda, atravessando uma ponte, onde este passava, suspensos pelos braços), com o intuito de fazermos um simples piquenique. Ora, isso, também tinha os seus custos!

Tínhamos nessas alturas de comprar o farnel e isso implicava estarmos munidos de algum dinheiro.

A minha avó Maria e, mesmo a minha mãe, nunca souberam destas investidas à quinta do Alfredinho, quero querer que nem a mãe deste. Quase ninguém conhecia as nossas peripécias, por vezes, arriscadas e plenas de perigosidade.

Mas, regressemos novamente ao circo.

Atribuíamos os encargos e os papéis que iríamos desempenhar. Todos éramos os palhaços. Nunca escrevíamos o guião das piadas por preguiça e, isso, causava-nos dissabores, pelas razões óbvias: Ninguém se ria! Isso também não era o importante, Havia também o trapezista ou os trapezistas, mas nunca conseguíamos esticar bem o arame, pelo que esta cena tornava-se algo confusa e aldrabada, transformando-se numa prova de equilíbrio com o arame colocado no chão. Não tínhamos culpa! O espaço era diminuto e o arame por vezes era curto e não chegava de um lado ao outro e, se chegasse, duvido se algum de nós não partiria a cabeça.

As Senhoras perguntavam a todo o momento se faltava muito para acabar, pois, não prestavam atenção a nada. Por falar em assistentes, elas resumiam-se à minha avó, à minha mãe, à D. Gertrudes, à vizinha do lado, a D. Maria José e à Arminda, uma espécie de governanta da D. Maria José.
O espectáculo decorria dentro da normalidade possível, até que chegou o momento final, o momento crucial, tão ansiado por todos os que estavam naquela cave.

Todos repararam que o meu irmão tinha na sua posse quatro facas, retiradas às escondidas da cozinha de minha avó e, agora, tornadas evidentes, reluzindo bem afiadas, depois de eu me encostar à parede. Era a cena das facas, imprescindível em todos os Circos.

As senhoras zeladoras do nosso bem-estar pararam a conversa e gritando: - “ Parem! Parem! Ainda matam o rapaz! Isso não!”- Invadiram a pista, perante o desgosto de todos nós.

Por sua ordem o circo terminou ali, naquele instante. As facas foram retiradas ao meu irmão, sem ele compreender, sem nós compreendermos.

O importante é que conseguíramos o dinheiro para os nossos gastos!
Toda a gente suspirou de alívio! Esteve prestes a acontecer um homicídio, sem culpa dos artistas daquele insólito espectáculo circense, mas valioso às nossas bolsas desfalcadas e desprovidas do necessário ao nosso sustento infantil.

Sim! Também tínhamos as nossas necessidades, imprescindíveis e inadiáveis!

Pena

Reposição: Pena, Janeiro 2006

Um Bem-Haja, pela vossa simpatia e amabilidade constantes.
Espero que leiam e gostem. Quem sabe?
Responderei a todos os comentários. Posso responder tardiamente, mas fá-lo-ei.
MUITO OBRIGADO sincero.

Gosto imenso de VOCÊS, sabiam?