Ligo o monitor da TV. Desligo-o de imediato. Parece-me fatigada aquela “caixinha”. “Caixinha” preciosa para muitos seres humanos. Fornece-lhes vida. Para imensas vidas. Para o Planeta inteiro feito de gente que não passa sem ela. Justifica-as cá na terra. Em mim. No meu sentir, dispenso-a.
Abro a janela. Solta-se dela uma pequena brisa agradável. Parece arejar as minhas ideias. Arejar o meu pensamento. Arejar o meu sentimento.
Está tudo sossegado. Impera um silêncio majestoso e gigantesco. Como o adoro no que sou. Observo o meu interior com convicção. Sinto-me veementemente complexo. Ou melhor: não agrado a muita gente. Pessoas. Nem sei porque ainda coabito comigo há imenso tempo? Anseio, com sinceridade, que os meus anjos-da-guarda não se fatiguem de como sou, de como vivo, de como existo. Tenho múltiplos anjos-da-guarda em mim. Protegem-me. Dão-me força. Povoam-me o pensar e o sentir sem hesitar. Nunca protestam, auxiliam-me enormemente. Até fico admirado.
Gosto de visualizar o que se passa no “Palco Social” da vida. Sim! Nunca intervenho ou interfiro no que profere. São sussurros. São murmúrios. São conversas ou diálogos rotineiros que me cansam. Chegam até mim desconexos. Sem sentido visível. Sem novidades pertinentes. Apenas, servem para me exasperar, tal a sua significação incaracterística e isenta de fundamentos desejados ou ansiados de algum valor que neles deveriam conter. Existir.
Quando a vida fala entre si pareço muito distante do que diz. Estou distante. Estou ausente. Estou muito longe dali. Talvez, nos confins do sonho que ambiciono, quero e me preenche de pureza e beleza. Talvez, o anseie para os meus também, mas terá de ser ponderado, afável, doce e feliz.
Caio abandonado nas metáforas existenciais que criei. Estão presentes e vivem no sorriso do Planeta de forma constante que me faz viver. Não posso entregar o meu choro satisfeito vivido. Não posso entregar o meu sorriso constante. A minha sensibilidade que decora o meu existir. Não posso entregar a construção de pureza, “trabalhada” com muita dedicação e azáfama do sentimento num tempo preciso e de persistir sem cessar em que fui um “gladiador” imenso existencial. Mesmo desta forma, sinto-me inquieto e desafogado comigo e com os outros. A vida deu-me tudo e eu vivo de sonhos. Esses sonhos são intransmissíveis. São secretos. São misteriosos. São, indubitavelmente meus!
Cai uma silhueta de penumbra adornada de ternura no lugar onde eu sou eu. A noite.
Passou mais um dia.
É tudo por agora.
Mal ou bem, senti a vida na sua plenitude. A noite protectora da minha inconstância.
Está feito o que encetei fazer. Nunca serei real no “Palco Social” estereotipado da vida.
Estou demasiado vivo, sabem?