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Campanha do Agasalho 2009

Saturday, November 21, 2009

Diário de um Professor: Habito. Moro. Sonho. Num Mundo Mais Justo e Melhor. Com toda a minha sinceridade, acreditem…!



Sinto uma inércia avassaladora pela necessidade de escrever, mesmo não sendo escutado.
Levantei-me cedo. Muito cedo. Pus-me a accionar o meu sentir que me pertence. Pertence-me por inteiro. Digam o que disserem. Foi “construído” a muito custo. Sofrido e dificilmente.


A urgência em escrever assola-me. Dissertar o que o meu pensamento descortina. Com uma certa sensatez, creio eu. Embora, repleta de incertezas. Parece-me esta razoabilidade imensamente sólida. Abrangente. Precisa. Visível no que sou.


Na minha escola que não é minha porque não a comprei, assumi um papel de Tutor. Conselheiro. Amigo. Sincero e sempre presente.


O Manuel era uma preciosidade inigualável. Revelava-se à vontade comigo.


Existia só no Planeta. Não tinha horas para comer. Não tinha tempo para “pensar-se” e "sentir-se" nele próprio. "Sentir" e "Pensar" nos outros.

“Chegou-me” por artes que nem eu sei. Mas, gostei.
A sua ânsia em entender os estudos era visível. Manifesta. A que urge estar atento.
Um “cordelinho” vestido numa pessoalidade inconveniente aos rostos de todos.


Reparei que trazia a mochila pesadíssima. Tomei-lhe o peso. Aos meus olhos de Educador aquilo pesava toneladas e era-me destinado.
Olhou-me com confiança. Discreta por ser respeitadora. Ele, Manuel, fazia parte do Mundo complexo. Que” assimilava” só para mim com os seus sonhos preciosos que sonhava. Como todas as crianças sonham. Apesar de serem sublimes de pureza e beleza, ele nunca os olhava com o coração. Não tinha tempo, nem magia, para os sentir. Tinha o seu próprio coração.
Tinha a sua Alma ENORME que se misturava com o Firmamento perfeito.

Diziam todos: Porta-se mal nas aulas. Tem atitudes inconvenientes. Disparatadas!”

Para mim, o Manuel triunfará SEMPRE!
Aliás, já triunfou pela vida. Pela sua própria vida. Incontestavelmente!

Notei-lhe um olhar ansioso. Uma presença inquietante de falta de amor e entendimento.
Olhei, de novo. Ele mostrou-me tudo o que era, quando lhe fiz a leitura do olhar. Doce. Inconformado. Injustiçado. Rebelde. Controverso.


Todo o conhecimento escolar, “passava” por aquela “cheíssima” mochila. Ele que ambicionava perguntar. Um ombro amigo que queria desfrutar. Sonhos preciosos na vida injusta para com ele.

- “Professor, vamos estudar Inglês? Vamos estudar Português? E, Ciências e História e Matemática?" – Dirigindo-se-me, com amabilidade, doçura e ternura.


Queria a “Sabedoria” de imediato. Com sofreguidão. Com ansiedade.
Vimos “aquilo” tudo, numa hora.
Era o tempo que estas actividades comportam. Depois, eu teria aulas “ditas” curriculares.


Quando me abandonei em mim, no final desta Actividade que assumi, senti algo inexplicável que constatara preocupado: Um imenso cansaço nos pensamentos e sentimentos dele.
Lembrei-me de lhe perguntar, perante a sua exaustão:


- Manuel, Já comeu? – Atirei-lhe, preocupado e apreensivo.
- Não como nada desde as 8 da manhã. – Retorquiu, aflito por eu constatar.
- Não foi almoçar…? – Disse, com a compreensão plena do meu Ser e Sentir.
- Não tive tempo. Já não aguento as “filas” intermináveis de alunos agressivos e que passam à nossa frente por serem maiores do que nós e para chegarem primeiro à cantina. E, eu, tinha esta Tutoria com o Sr. Professor a que nunca faltaria". – Concluiu, peremptório e imerso, na sua tristeza. Inconfundível. Aflito com a reacção que eu pudesse vir a assumir.


Olhei-o, de novo. Olhou-me ternamente, aquele Gigantesco Ser Humano de bem. Como a pedir, humildemente, desculpa. Ele que não tinha culpa nenhuma. NENHUMA, mesmo.


- Desculpa de quê?
– Pensei, abandonado ao meu eu.
Saltei da cadeia onde estava sentado, num salto que me pareceu estranhamente acrobático, decidido e, só lhe disse, com convicção:
- Acabou a aula de Tutoria. Vamos comer".
Senti-lhe uma satisfação inexplicável de beleza. Agradecimento.
Desta vez, “abriu-se” a Cantina pela terna magia de três diligentes funcionárias e o Manuel devorou o prato satisfeito e eu fiquei com a sua alegria. Fiquei com a sua felicidade. Fiquei com a sua presença, mesmo, somente, pensada.


Quantos mais viverão assim, inquiro-me, somente…? Somente…?


Por certo, teríamos que substituir este Mundo por um Mundo mais perfeito.
Já pensei tanto nisto, acreditem…?



Nesta “Mudança Radical” do nosso Mundo para um PERFEITO, sem dor, sem sofrimento, sem abandonos…
Só.
Pensei…

Deus, poderia fazer-nos esse “Jeitinho”, sabem…?

A franqueza. A singeleza. A ternura no olhar do Manuel, comoveram-me.

Perguntei-me, intrigado, para mim:

"Será a escola como a sinto e como a penso…?"
"Teria feito um gesto correcto, justo, defensor da sua harmonia e bem-estar?"

"Uma Tutoria também servirá para “isto”…?"

"Fico a pensar…está bem…?"

"Indeciso e Desconcertado."

Sentido a vida fluir nestes rostos tão puros e belos que tudo merecem.

Por que razão sou assim…?

Porquê…?

Será que uma “Tutoria” também passa pela Cantina dos alunos…?

Pena

Pena. Dia 20/11/2009. À noite.
OBRIGADO por todo o carinho, dedicados visitantes.
Bem-Hajam! Adoro-Vos!