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Monday, January 18, 2016

Quando Penso Gosto que eu próprio Me Ouça!

Torna-se difícil escrever alguma coisa dentro da “anestesia” de mim.
O Senhor Gonçalves ri-se. De tudo. Até quando respiro ele ouve e ri-se.
Não! Não é agradável. Olha-me. De alto a baixo e ri-se.

Já lhe disse que não era Palhaço nenhum num Circo. Insiste nesse propósito sem me ligar. Sem dar sentido ao que faço aqui. Não lhe ausculto nenhuma reação de respeito por mim. Ou uma atenção de desculpa para mim. Ri-se e pronto.
Esta situação desconfortável é ímpar, para mim.

Eu não me riu de ninguém. Só por rir. Por mais cómica que a situação seja.

Olho. Ao meu redor. A casa está silenciosa. Só a televisão alta do Senhor Gonçalves se ouve. Será que não se apercebe que me incomoda? Que me suscita revolta? Indignação? Pouco conforto nas palavras que expresso? Não abandona a TV nem por nada. Espeta a sua visão nela e não os tira fora do écran. Depois adormece com as cuecas azuis e sem respeitar ninguém. Nem a mim, ali mesmo ao lado. Quando lhe digo para a por mais baixo diz-me que eu tenha juízo. E, acrescenta: - A TV é para por alta. Para se ouvir bem. Ele está em minha casa e quem dá as ordens é ele. Penso. Não é justo. Sensato. Amigo. E, ri-se. E ri-se.

Assim não consigo “agarrar” o meu pensamento que é meu. Será que ele terá alguma coisa que lhe interesse? Sim! Sem respeitar nada nem ninguém. Penso que ele não tem sentimentos ou pensamentos para escrever nas traseiras de algum envelope aberto. Dos folhetos da publicidade doméstica que todos recebemos na caixa do correio e ele guarda. Ele guarda e lê. Ou faz um ar interessado e faz que lê.

Uma luz difusa abrange todo o local onde estou. Pelo menos tenta ser cuidadoso e apaga sempre as luzes. Todas as luzes de uma casa que é minha.

Pego num livro. Folheio até compreender o estilo literário do seu autor. Depois folheio o conteúdo por alto. Só leio livros de pessoas desconhecidas. Ver neles a sua grandiosidade das ideias. Da magia que faz voar. Conquistar o Universo celestial tão belo e lindo que nos parece uma visão de sonho.

Extraordinário. Sempre que tenho disponibilidade olho o alto. Hoje, está a chover e está uma nublagem que não me deixa observá-lo. Nada se vê. Posso imaginar as estrelas de encanto. As Constelações. Os astros majestosos.

Crio, à minha volta; uma emoção perpassável completa de silhuetas/Planetas que nunca esquecerei de mim.

Não consigo escrever nada de jeito porque o Senhor Gonçalves metido nas suas cuecas azuis sigilosas está a ressonar mais alto que a TV.

Impossível. Inacreditável. Frustrante.
Tenho receio de conceber regras nos pensamentos. Conceber regras nos imensos sentimentos. 

Nas minhas Emoções. Nas minhas ideias. Gostam de mim. Estão ao meu lado em sinal de concordância. Em sentido de amabilidade, elevando a minha pouca auto-estima sempre e mais ainda com a situação criada.

Sejam felizes, sim?

Existo, sabem?


António Pena Gil  Janeiro 2016