Do alto daquele varandim, parei o olhar.
Observei, atentamente.
Observei o Mundo atarefado que decorria lá baixo. Abaixo de mim e do varandim que parecia meu cúmplice. Um varandim cúmplice da minha amizade que observava.
Não me levem a mal., mas fui dos últimos a comprar os presentes que iria ofertar.
À família. Aos amigos. Se fosse preciso aos inimigos também.
Gosto de observar o “mundo” precioso das pessoas. Pessoas que existem.
São parte de mim. Do que sou.
Lá baixo havia de tudo um pouco.
Os passos. Os gestos. As atitudes. Os olhares.
Afáveis. Sorridentes. Tristes. Sem nada ou com tudo.
Debrucei-me sobre mim e sobre o varandim.
Não! A Noite de Consoada não é igual para todos!
O que mais me impressionou foram os olhares gastos. Cansados. Que o meu olhar via vazios de nada. Passos incertos. Que vagueavam ao acaso. Sem nexo.
Sem um inicio. Sem um fim. Sem uma significação.
Passos cadenciados. Em sofrimento. Num sorriso triste.
Passos. Gestos. De corações empedernidos pela vida...
Almas em vácuo profundo que nada dizem...Nada dizem, entendem?
Esses marcam, sabem?
Aparentavam desconexão irreal. Difusos. Ausência de felicidade.
Não! A alegria não “morava” neles. Nesses passos. Nesses sensíveis, mas olhares cintilantes de nada.
Se os escondessem, os olhares, os passos, eu detectava-os de imediato.
Saltaria em busca deles. Posso não ser nada. Ler olhares e senti-los, faço-o à distância. Reconheço-os de pronto, não sei porque razão.
As suas presenças incertas. Os seus sentimentos de dor imensa. A sua individualidade de desencanto.
Do alto daquele varandim “vesti” os rostos de todos.
Tentei “senti-los”. Eu? Sim. Eu.
“Vesti” uma solidariedade imensa por todos. Sim! Sem ser Deus.
Entendi-os. Assimilei a sua dor.
Fiz as compras e corri apressadamente sem parar para casa.
Abracei os meus porque havia motivos fortes no que vi…
Desculpem! Não me pude esquecer que tenho um olhar…
E, vi que os preparativos de Natal não eram iguais para todos!
Sorri a Deus…Abracei-O a sonhar e disse baixinho para mim:
Como sou FELIZ!
Como me apetece gritar-Lhe. Ajuda-os, POR FAVOR...!
Pena, 25 de Dezembro de 2008. Noite de Natal. 21h e 30 m.
Dedicado a todos aqueles que viram o Natal a existir sem poder abraçá-lo em felicidade.