Sunday, January 24, 2016
O Lobo Sob O Penedo do Loba
O Presidente da Junta do local denominado Monte da Forca em
Vila Real andava inquieto e exasperado por uma Tradição que nunca fora
interrompida sobre a lenda do lobo sob o Penedo da Loba.
Fazia, hoje, o dia em que a Lenda ficara para ser contada por
outra pessoa dando seguimento ao já contado havia treze anos rigorosos passados
por outra pessoa.
Fui chamado, de urgência, ao escritório da Junta.
O Presidente olhou-me dos pés à cabeça, pormenorizadamente, e
disse-me: É sua a Lenda. Prossiga-a. Já não temos muito tempo.
Integrando um grupo de destemidos anciãos do local, armados
até aos dentes, levaram-me até ao sítio, onde, supostamente, um lobo que nunca
mais tinha sido visto, o Lobo sob o Penedo da Loba. O guardava. Destemidamente.
Fez-se silêncio. Os paus que levavam consigo tomavam-nas como
“armas de Guerra”. Esconderam-se atrás de umas fragas mais seguras e aguardaram.
Assim, todos os sons ali podiam ser mais facilmente escutados. Ouviram uns
passos de presa forte e imponente aqui e ali pisar as folhas que rangiam sob o
peso de quem passava por cima. Tremeram todos. Eles que nunca tremiam. Olharam o
Penedo e nada viram. Olharam os flancos laterais e tudo estava deserto.
Foi então que surgiu um uivo grandioso que fez estremecer o
povoado como há muito não se ouvira. Encolheram-se uns contra os outros.
Estavam temerosos e brancos do susto. Juraram nunca sair para ir a locais
assombrados como este era.
Depois, daquele uivar de um Lobo grandioso e enorme saíram e
não ouviram mais nada. Não havia sequer pegadas de ninguém, muito mais de um Lobo
como rezava a tradição.
Regressaram ao Povoado. Contavam os anciães do lugar que, de
vez em conta, ouvia-se o uivar de um lobo nas cercanias daquele sítio ou quando
se aproximavam do Penedo do lobo sob a loba. Todos afirmavam que ouviam um uivo
imponente e, grandioso, de Lobo ao pé do Penedo e, depois mais longe dali, mas
que nunca encontraram ou viram nada.
Resolvi ir sozinho. Não por heroísmo, mas por discrição e por
ter sido eu o indicado para contar a lenda. Segui o caminho habitual que fizera
com os Ansiães daquele local até ao Penedo da Lobo sob o Penedo do Loba. Subi
ao Penedo e gritei muito alto e, em voz bem timbrada, para que o Lobo ouvisse.
A resposta soou e fez-se ouvir. Um trovão saído de um animal gigantesco uivou
e, cujo uivo, todos ouviram a muito longa distância. Foi dali que partiu este
uivar grandioso que desfez todas as opiniões sobre o Penedo do Lobo sob o
Penedo da Loba. Mas, nada se viu.
Estremeci. O lancinante uivo trepou-me pela espinha adentro e
jamais teria outro incurso àquele local. Temia sob o que viria a encontrar? O
que poderia acontecer?
Contou várias vezes a quem o quis ouvir no Povoado, a lenda
da Lobo sob o Penedo do Loba e os anciães mantiveram-se calados enquanto os
jovens permaneciam calados e assustados perante tal mistério ali ao pé mesmo
deles.
Como era uma aldeia comunitária comiam todos e todas numa
mesa comprida onda coubessem todos e todas num alegre festejo anunciador de que
os terrenos precisavam de uma mãozinha aqui e ali.
A dada altura fez-se silêncio para digerir melhor a comida.
Nesse instante ouviu-se por todo o Povoado e a longa distância o uivo de um
Lobo gigantesco. Todos pararam. Por instantes aquele uivo sofrido manteve-se.
Enquanto perdurou ninguém emitiu um movimento que fosse. Por fim, sorriram
discretamente para dentro deles com uma cumplicidade plena e continuaram a
comer.
Nada acrescentaria à escrita que se fazia de treze em treze anos.
Apenas sorri. Apenas assinei.
A lenda do Lobo sob o Penedo da Loba!
Deixei um espaço em branco com a ideia de outra pessoa
continuar a Lenda, ao que o Presidente trancou e arquivou sem nada a fazer.
Apenas me cumprimentou e me disse: Terminou a lenda! O lobo está vivo.
E, proferiu, disfarçando um sorriso cúmplice, direccionado à
Lenda daquele Lobo.
Gerações de pessoas ficarão assustadas com o uivar imponente
deste Lobo, mas ele está aqui. Vivo ou morto. Ninguém sabe?
E, muitos anos volvidos reunidos na mesma mesa ancestral de
muitos séculos passados, uivava o lobo a quem já ninguém parecia dar
importância, mas sorriam, depois de um prolongado silêncio repleto de cumplicidade
e, cuja lenda, pensava ele, era digna de ser contada aos mais novos.
E, sucessivamente gerações e gerações de pessoas contavam-na
sempre naquela altura que os mais jovens escutavam com cumplicidade e um certo
temor.
António Pena Gil