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Saturday, January 02, 2016

Crónica do meu dia anterior e do meu dia posterior de Ano Novo de 2016.


Nisto soou o rádio - despertador, não, isso já não existe, digo o telemóvel da minha cara-metade na sua mesinha-de-cabeceira. Apontava as 7 horas da manhã infalíveis. Como gosto de me levantar cedo, ergui-me do leito com pertinácia e boa-disposição, sem antes ter de galgar as escadas para o piso inferior onde estava a cozinha, sem ouvir um sonoro: - Trás-me o “leite” da minha cara-metade em voz cristalina e pura. Acrescentou de pronto: -  E,  vai ligeirinho que se faz tarde.

Eu costumava fazer sempre isto e, após ter bebido o meu “leite” coloquei, o dela, numa bandeja, com um cartão de amor e, galguei as escadas “ligeirinho” para o quarto. Quando a olhei vi como era linda. Majestosa. De pura delícia. Despertou sem uma única ruga na cara que lhe elogiei com convicção. Olhava-a com pasmo e encanto. Era um visão ímpar e majestosa. Depois de colocar a bandeja no seu colo, sorri-lhe embevecido pela sua  beleza.

Quando me encontrava nestes gestos, ela proferiu:  - Olha, temos a casa inundada. Vê se consegues ir ``às tampas” dos esgotos, desentupi-las, está bem? – O que é que devia dizer? Disse-lhe, prontamente: - Está bem eu vou lá e “ligeirinho” como ela sorria para mim sempre que dizia “isto”.

Ainda tentei arranjar umas luvas, mas ela perguntou - me se tinha problemas nas mãos. Disse que, não e, a sorrir e lá fui para os esgotos da casa.

Quando já tinha levantado uma “tampa”, surgiu-me do alto das escadas o meu inspector de obras diplomado para mandar que era o meu sogro e disse-me: - Vá buscar um ferro e faça assim e, exemplificou. Colocou-se mesmo atrás de mim e eu peguei no ferro, meti-lhe no fedor daquela caixa. Vi tubarões pequeninos lá dentro nadando, mas não fiz como ele dissera.

Berrou-me. De pronto: - Caramba você não sabe mesmo nada. Não é assim é assim.

Apesar de estar a ver o meu Inspector sabedor de tudo na minha frente, fiz, novamente o contrário do que ele me dissera, rindo só para mim. Ficou vermelho a espumar o meteu logo o ferro, depois de mo ter tirado das mãos com impetuosidade e numa revolta de incompreensão.

Disse-me, furioso:  - É assim, vê? Assim, é que um Homem trabalha. Consegui dizer-lhe ainda: - É capaz de ser uma técnica válida, mas eu tenho a minha, posso? Amuou e meteu-se em casa.

Entretanto eu prosseguia na minha técnica, aquilo ia baixando, mas não era nada como ele queria. Sim! O meu inspector de obras.

Várias vezes assolava à porta para me dizer repleto de fúria: - Não é assim. Nem amanhã conseguirá. Eu ia dizendo-lhe que era uma técnica nova que trouxera num livro que tinha encontrado no meu quarto.
Franziu o sobrolho e foi para dentro, quase a estoirar de ira e revolta. Tive pena dele e, não tendo nada a perder, disse-lhe que ele fizesse o meu trabalho.

Sorriu e dirigiu-se, feliz, à caixa do esgoto, tendo o cuidado de me chamar para me explicar, novamente. Aprovei satisfeito, mas não tendo ainda passado dez minutos ouvi um grito dele exaltado e irado, dizendo nervoso: - Telefone às entidades competentes da “Água” porque eles trariam a Máquina que “chuparia” a porcaria toda para fora dali porque a sua técnica avançada no tempo fora ultrapassada.  Virou-se para mim e não esqueceu de dizer: - Você não sabe nada.

Entramos os dois em casa. Telefonei sem êxito para a “Água”, mas ninguém atendia, pelo que me berrou, como meu Inspector das “Águas”: - Faça alguma coisa. Não sabe fazer nada, é?
Ignorei e fui tomar banho para ele não me enviar de novo para lá.
Acalmou. Eu também.

Neste dia anterior ao dia de festa, 31 de Dezembro de 2015 não me lembro de nada mais relevante a partilhar convosco. Ou esqueci? Não.
Passei um resto de dia calmo até às passas que comemos na contagem e nos sonhos realizados ou que desejávamos realizar para o novo ano de 2016.

O meu inspector também comeu. Ele que não abre mãos à sua condição de inspector da casa e benfeitor de todos nós. Os sonhos não sei se tem? Mas, tudo é de prever. Todos temos sonhos, penso eu. Em todas as idades.
Eu estava feliz por ele não poder enviar outra vez para os “”esgotos”.
Até sorri, feliz, ao lado da minha doce cara-metade. Era mesmo linda: - Pensei só para mim.

No dia seguinte, primeiro Dia do ano de 2016, correu tudo pelo melhor. Recebemos toda a família em nossa casa.
Eu disse que seria bom, para o próximo ano estarmos ali todos de novo.
Baixinho disse a Deus: - Oh, Deus, por favor, dá - nos a alegria de nos juntarmos de novo aqui. Apenas sorriu e Respondeu-me que iria fazer todos os esforços.

A minha mãe deitou uma lágrima e até terminar as festas e, depois, de “arrumar” a loiça, tivemos o desencanto de o meu senhor inspector de obras não querer vestir as cuecas azuis bem largas da tradição, dizendo que era esquisito e não as vestia de forma alguma.

Ao final deste dia lá pensou melhor e vestiu as cuecas azuis da tradição dizendo que não dissessem a ninguém. Era sigilo ao mais alto nível.
Fizemos-lhe todos a sua vontade.
E, hoje, decidi escrever sobre o vivido com emoção, no dia anterior e posterior a 2016.
Que sejam felizes, está bem?


António Pena Gil (Pena) 2015/2016.