Crónica do meu dia
anterior e do meu dia posterior de Ano Novo de 2016.
Nisto soou o rádio -
despertador, não, isso já não existe, digo o telemóvel da minha cara-metade na
sua mesinha-de-cabeceira. Apontava as 7 horas da manhã infalíveis. Como gosto
de me levantar cedo, ergui-me do leito com pertinácia e boa-disposição, sem
antes ter de galgar as escadas para o piso inferior onde estava a cozinha, sem
ouvir um sonoro: - Trás-me o “leite” da minha cara-metade em voz cristalina e
pura. Acrescentou de pronto: - E, vai ligeirinho que se faz tarde.
Eu costumava fazer
sempre isto e, após ter bebido o meu “leite” coloquei, o dela, numa bandeja,
com um cartão de amor e, galguei as escadas “ligeirinho” para o quarto. Quando
a olhei vi como era linda. Majestosa. De pura delícia. Despertou sem uma única
ruga na cara que lhe elogiei com convicção. Olhava-a com pasmo e encanto. Era
um visão ímpar e majestosa. Depois de colocar a bandeja no seu colo, sorri-lhe
embevecido pela sua beleza.
Quando me encontrava
nestes gestos, ela proferiu: - Olha,
temos a casa inundada. Vê se consegues ir ``às tampas” dos esgotos, desentupi-las,
está bem? – O que é que devia dizer? Disse-lhe, prontamente: - Está bem eu vou
lá e “ligeirinho” como ela sorria para mim sempre que dizia “isto”.
Ainda tentei arranjar
umas luvas, mas ela perguntou - me se tinha problemas nas mãos. Disse que, não
e, a sorrir e lá fui para os esgotos da casa.
Quando já tinha
levantado uma “tampa”, surgiu-me do alto das escadas o meu inspector de obras
diplomado para mandar que era o meu sogro e disse-me: - Vá buscar um ferro e
faça assim e, exemplificou. Colocou-se mesmo atrás de mim e eu peguei no ferro,
meti-lhe no fedor daquela caixa. Vi tubarões pequeninos lá dentro nadando, mas
não fiz como ele dissera.
Berrou-me. De pronto: -
Caramba você não sabe mesmo nada. Não é assim é assim.
Apesar de estar a ver o
meu Inspector sabedor de tudo na minha frente, fiz, novamente o contrário do
que ele me dissera, rindo só para mim. Ficou vermelho a espumar o meteu logo o
ferro, depois de mo ter tirado das mãos com impetuosidade e numa revolta de
incompreensão.
Disse-me, furioso: - É assim, vê? Assim, é que um Homem trabalha.
Consegui dizer-lhe ainda: - É capaz de ser uma técnica válida, mas eu tenho a
minha, posso? Amuou e meteu-se em casa.
Entretanto eu prosseguia
na minha técnica, aquilo ia baixando, mas não era nada como ele queria. Sim! O
meu inspector de obras.
Várias vezes assolava à
porta para me dizer repleto de fúria: - Não é assim. Nem amanhã conseguirá. Eu
ia dizendo-lhe que era uma técnica nova que trouxera num livro que tinha
encontrado no meu quarto.
Franziu o sobrolho e
foi para dentro, quase a estoirar de ira e revolta. Tive pena dele e, não tendo
nada a perder, disse-lhe que ele fizesse o meu trabalho.
Sorriu e dirigiu-se,
feliz, à caixa do esgoto, tendo o cuidado de me chamar para me explicar,
novamente. Aprovei satisfeito, mas não tendo ainda passado dez minutos ouvi um
grito dele exaltado e irado, dizendo nervoso: - Telefone às entidades
competentes da “Água” porque eles trariam a Máquina que “chuparia” a porcaria
toda para fora dali porque a sua técnica avançada no tempo fora
ultrapassada. Virou-se para mim e não
esqueceu de dizer: - Você não sabe nada.
Entramos os dois em
casa. Telefonei sem êxito para a “Água”, mas ninguém atendia, pelo que me
berrou, como meu Inspector das “Águas”: - Faça alguma coisa. Não sabe fazer
nada, é?
Ignorei e fui tomar
banho para ele não me enviar de novo para lá.
Acalmou. Eu também.
Neste dia anterior ao
dia de festa, 31 de Dezembro de 2015 não me lembro de nada mais relevante a
partilhar convosco. Ou esqueci? Não.
Passei um resto de dia
calmo até às passas que comemos na contagem e nos sonhos realizados ou que
desejávamos realizar para o novo ano de 2016.
O meu inspector também
comeu. Ele que não abre mãos à sua condição de inspector da casa e benfeitor de
todos nós. Os sonhos não sei se tem? Mas, tudo é de prever. Todos temos sonhos,
penso eu. Em todas as idades.
Eu estava feliz por ele
não poder enviar outra vez para os “”esgotos”.
Até sorri, feliz, ao
lado da minha doce cara-metade. Era mesmo linda: - Pensei só para mim.
No dia seguinte,
primeiro Dia do ano de 2016, correu tudo pelo melhor. Recebemos toda a família
em nossa casa.
Eu disse que seria bom,
para o próximo ano estarmos ali todos de novo.
Baixinho disse a Deus:
- Oh, Deus, por favor, dá - nos a alegria de nos juntarmos de novo aqui. Apenas
sorriu e Respondeu-me que iria fazer todos os esforços.
A minha mãe deitou uma
lágrima e até terminar as festas e, depois, de “arrumar” a loiça, tivemos o
desencanto de o meu senhor inspector de obras não querer vestir as cuecas azuis
bem largas da tradição, dizendo que era esquisito e não as vestia de forma
alguma.
Ao final deste dia lá
pensou melhor e vestiu as cuecas azuis da tradição dizendo que não dissessem a
ninguém. Era sigilo ao mais alto nível.
Fizemos-lhe todos a sua
vontade.
E, hoje, decidi
escrever sobre o vivido com emoção, no dia anterior e posterior a 2016.
Que sejam felizes, está
bem?
António Pena Gil (Pena)
2015/2016.