Tuesday, March 06, 2018
Recordo.
Sempre
me senti absorvido pelo meu eu.
Sempre
me observei entregue às minhas “coisas”. “Coisas” de visualizar na minha
timidez. Na modéstia avassaladora de mim. Gostava de ser assim. Olhava-me perplexo
e atónito. Nunca vislumbrei a existência tão pacata ou tranquila de “vesti-la”
com agrado ou aprazível sensação de existir. Viver.
Andava
sempre de mochila ao ombro. Nunca me foi pesada. Metia nela sempre o
indispensável para sobreviver e “morar” em mim. No que sou. Deambulava pelo mundo ao acaso. Sem fim. Eu era assim.
Ambicionava uma terna
e bela emoção rumo ao desconhecido de mochila sempre nas costas, desejando
percorrer o Planeta. Era através
dum desejo nunca consumado: “Comprar” o “INTERRAIL” e viajar por todo o Universo
terrestre.
Permitia-me
visitar países desconhecidos de mim. A “fórmula” era a seguinte: Conhecer de
dia e Dormir de noite no comboio.
Era
um “bilhete” que me permitia, de locomotiva, conhecer o inconhecível. “Conquistar”
com facilidade, cidades e cidades europeias e de todo o mundo. Podia deslocar-me
a todo o lado neste transporte de sonho.
Nunca
o que consegui efetuar. Era caro e o jovem que era não tinha muitos “abonos”
económicos que satisfizesse esta atitude de capital pertinência “desenhada” no
que sou. “Desenhadas” no mais puro e terno sentimentos de então.
A
pensar nestes locais longínquos que calcorreava de mochila às costas, rumei a “Cortegaça”,
uma praia na linha de Espinho, onde um “namoro” fugaz e pouco capaz me
esperava.
Era
um “enlace” majestoso.
Tudo
foi um caos. Encontrava-se na praia deste local com a família que me provocou
arrepios e desilusão. Pouco tempo estive com ela, mas o meu primeiro amor nunca
o esqueci. O despertar para a vida. O sublime ensejo de que existia com ela
perto de mim. Timidamente, só deu tempo para um beijo apaixonado. Inadiável.
Precioso para mim.
Em
breve, foi desastroso. Um incomplexo fim que já era como certo e pleno nas
minhas hesitações.
Em
breve, continuei a “correr” a minha vida preenchida só por mim. Estava
novamente só. Entregue ao que sou e sinto.
Sempre
de mochila às costas e à boleia senti-me feliz. Satisfeito. Em paz. Era e
funcionava todo o meu ser conformado e visível aos olhos da vida. Da pacatez de
solidão. Que não lhe queria mal.
Apenas,
tremia ao meu abandono do meu existir precioso e de agradabilidade.
Como
se me apresentava a vida que eu adorava.
Eu
amava-a. Eu idolatrava-a. Eu mistificava-a.
Recordo.
Foi
a minha primeira vez.
António
Pena Gil