Thursday, March 22, 2018
Como
Se Comemorava Só Em Vila Real A Restauração Portuguesa do 1ª de Dezembro de
1960.
Éramos muito jovens,
mas cientes da nossa história de que nos orgulhávamos imenso.
Como sabem A Restauração
Portuguesa ocorreu em 1964, em que se restabeleceu o Estado e o Governo
legítimo da Nação em detrimento da Dinastia Filipina espanhola que até então
detinha o poder no nosso País.
Em Vila Real comemorava-se,
este primeiro dia de Dezembro, com um baile na, agora, Escola Camilo Castelo
Branco, que na altura era o Liceu que frequentei e tirava excelentes notas com
o meu desempenho e atenção que dedicava aos estudos. Pensava também nos
esforços económicos dos meus pais.
Após o baile de
finalistas e, de todos os outros jovens, das diversas camadas de escolaridade e
anos, juntavam-se alguns intrusos desconhecidos em busca das suas donzelas com
que sempre sonharam.
Nunca fui ao baile.
Preferia permanecer em casa lendo um bom livro, na sua pacatez e quietude, sem
as peripécias e confusão que surgiam sempre.
Há noite era o
Espetáculo dos Estudantes.
Era sempre com ironia
e caracterização feita pelos alunos com mais desembaraço e à vontade, aos
nossos Professores de então. Igualmente, com um certo “sarcasmo” inofensivo e
sorridente focavam alguns momentos passados pelos Docentes e Discentes que a
PIDE registava com interesse e fiel à Ditadura que “vingava” em Portugal.
Não passavam algumas
sátiras ao nosso regime opressor. E a censura via por alto o que expressavam e
cortavam “algumas passagens” que nunca deixávamos cortar e “teatralizávamos na
mesma.
Acabado o “Teatro”
como lhe chamávamos passava-se à Ceia.
Esta Ceia era nalguma “Tasca”
onde quem bebesse demais era apelidado herói.
Eu, com um truque
subtil acabava por não beber nunca mais do que podia e assistia ao triste
estado dos meus colegas/amigos com um sorriso estampado na cara apreciando tudo
na noite escura e de desvarios imensos.
Cada passo que dava
agarravam-se a mim e falavam embriagados que eu tentava ajudar.
Às vezes, ficava no empedrado
da rua as “entranhas” de vómito, associado a condutas desajustadas e acentuadas
deles. Muitas vezes, rapazes e raparigas ficavam entregues um ou outro e
renascia um namoro pela calada da noite.
A tudo assistia e
ajudava. Levava colegas às suas casas. Dava-lhes café para atenuar o efeito dos
múltiplos copos de vinho, exageradamente bebidos. Havia casos de alunos que até
em “coma-alcoólico” ficavam.
E, agradeciam a minha
atitude.
Ao outro dia não se
lembravam de nada. Absolutamente, nada. Agradeciam-me, simplesmente por tê-los
ajudado.
Em alturas atrás também
fiz como eles, mas sabia até onde podia ir.
(Homenagem a Vila Real
e aos seus rituais inesquecíveis).
Era, assim, como se comemorava só em Vila Real a
Restauração Portuguesa do 1ª de Dezembro de 1960.
Obrigado.
António Pena Gil