Monday, October 23, 2017
Perdi o “Selo de Validade” da Vida.
A burocracia não se compadece com os meus afazeres e
atividades que tento encetar. Estou ainda vivo. Presente. Lúcido.
Quando cheguei àquela Instituição Bancária passavam
exatamente oito minutos depois da hora de fechar. Abri a porta exterior e
deparei-me com a interior fechada.
Eu necessitava mesmo de tratar de um assunto urgente. Vi que
havia gente no seu interior e toquei à campainha uma vez. Olhei e vi uma
Senhora carrancuda e sempre com cara de “pau”. Feia mesmo. Nem olhou.
Não se levantou ou olhou a minha ânsia de resolver aquele
problema urgente e continuou sentada.
Toquei, então três vezes. Pior ainda. Não houve da parte dela
nenhuma manifestação de vida. Era mesmo sem educação. Sem civismo. Sem
sentimentos que me pudesse ajudar.
Perdi a cabeça e premi o botão da campainha sem tirar o dedo
do interruptor.
Aí, com o ar de desfaçatez e de antipatia levantou-se
lentamente de onde estava sentada e veio na minha direção irada e desnorteada,
acompanhada da Senhora da limpeza.
Disse que precisava de resolver um problema com um Senhor
daquela Instituição de prestígio reconhecido pelo mundo fora e barrou-me o
trajeto quando referi o seu nome.
Adiantou-me que não estava. Com antipatia e desaforo
horripilantes só de escutar.
Teve que falar a maravilhosa e simpática Senhora da limpeza.
Falou mais alto e disse que o dito Senhor estava ao fundo numa secretária e que
podia ir ao seu encontro.
A execrável Senhora do Banco parecia estrebuchar de
indignação e revolta pela minha entrada e, pela repugnância para ela, do ato da
Senhora da Limpeza.
Para ela, eu não tinha “selo de validade da vida”. Acabara-se
o mundo para mim.
Fiquei triste e desolado com a burocracia existente no meu
país.
Anteriormente, por oito minutos acediam sempre ao meu pedido
e até pediam desculpa pelo sucedido não ser mais rápido.
Quando saí as lágrimas imensas vieram-me aos olhos.
Chorei. Tinha perdido o meu “selo de validade”.
Era o meu fim.
Com a vida “chorada” assim, entrei noutra repartição, onde
uma senhora escrevia compenetrada e atenta e dirigi-me a ela.
Tinha o Atendimento por trás de um vidro, pelo que,
mecanicamente virou a sua cabeça que era o sinal para o seguir e chegar até
ela.
Primeiro, não me olhou e, sem eu dizer nada e sem ninguém ali
e sem expor o assunto que me levara ali, proferiu que tinha de esperar.
Mostrei-lhe o documento que não viu e confirmou que tinha de
esperar calmamente e sem sobressaltos de quaisquer espécies.
A ordem seria enviada para minha casa.
Agradeci-lhe efusiva e amavelmente e ela retribuiu.
Creio que é o fim do meu “selo de validade”.
Foi ultrapassado imenso e na sua imensa plenitude.
A burocracia de certos locais públicos não se compadece por
ele.
Talvez, um dia alguém me dê apreço. Respeito. Estima.
Consideração.
Está bem assim?
Embora, desolado e só, Bem-Haja, pelo imenso de grandiosidade
que vós sóis e significam.
Acredito em vós e no vosso carinho e ternura amigas.
Até sempre.
António Pena Gil
Sejam felizes, sim, amigos?