Wednesday, May 02, 2018
Uma Divagação Incaracterística!
Entro no café. A esta hora do dia repleto de rostos vazios
que se entrechocam no olhar. Sem conhecimento mútuo. As alvas paredes aconchegam-me
de afeto. Parecem abraçar-me. Parecem falar. Já os olhares são distantes.
Vazios. Os gestos estereotipados de sempre. O pensamento longe dali.
Parecem descortinar um Mundo. Um Mundo que também é o meu.
Sento-me numa tosca mesa. O meu lugar aqui, parece-me preenchido. Gente que
entra. Gente que sai. É o ritmo habitual de todos os dias.
As moscas vagueiam ao acaso. Poisam aqui e ali.
Insuportáveis, mas presentes. Invitalmente presentes. Querem persistir. “Respirar”
a sua incómoda presença. Peço um café com afabilidade.
A empregada recebe a notícia com indiferença. Não era de
esperar outra coisa. Vive a sua desconhecida vida. Não quer saber quem sou. E,
estou lá. Estou a ocupar um lugar. Aconchegado ao meu pensamento. “Carregado”
de sentimentos de sempre. Mas, também não entro no “jogo” inconveniente da
desconhecida. Ignoro-a.
Estou vivo. Vivo, porque Ele me concede. Por Ele me deixar
viver a vida. Está de bem comigo e pelo que sou. Também não sou uma pessoa que
O incomode. Que O incomode na Sua grandiosidade. Não sou “dado” a falas. “Sou”,
apenas, não se esqueçam? Há olhares de todos os géneros e feitios. Pessoas de
vidas diferentes.
Sinto uma conversa aqui e outra ali. Várias conversas
desinteressadas. “Enterro-me” em mim, por persistirem no ritual complexo da
minha existência.
Enfim, “assimilei” o lugar onde me sento. Tomei o café!
Digeri-o com tranquilidade e sossegadamente.
Depois? Depois, “transportei-me” imiscuído do meu eterno
sonhar, para fora dali.
“Transportei-me” em sonhos nesta Divagação Incaracterística!
Nesta “divagação” permanente.
Está bem assim?
António Pena Gil
Obrigado.
Gosto muito de vós.