Friday, November 03, 2017
Um Petiz/Adolescente Que É Um Herói
Da Vida!
Relembro-me, vagamente que costumávamos brincar no Átrio,
mesmo em frente da nossa casa.
Fazíamos tropelias ao olhar compreensivo da minha adorável
família de sonho.
Chamava-se Adolfo e vivia instantes aflitivos.
Nunca o vi a chorar pelas amarguras do mundo injusto. Cruel. Sofredor.
Vivia, praticamente só. Entregue ao mundo e à vida.
A mãe “partira” cedo do seu sentir desolado e triste. Padecido.
Quando brincávamos, olhava imensamente para a porta perto de
si.
O seu pai era alcoólico em estado avançado.
Adolfo tremia por um motivo que todos nós sabíamos.
Em breve, chegaria o seu pai, rebolando-se escadas abaixo.
Embriagado. Alcoolizado. A necessitar de ajuda para chegar a sua casa.
Adolfo, seu único apoio de jovem extraordinário, amparava-o.
Tudo fazia para ele se endireitar e fazer o possível para nós não o vermos.
Sim! Naquele estado aflitivo e embriagado.
Sim! Neste instante chorava. Imenso. Escondia o seu chorar de
nós. Chorava a sua milagrosa atitude como uma obrigação.
Metido, agora na cama, o seu pai dizia muitas obscenidades e groçarias
que só ele era conhecedor.
Sentia vergonha. Sentia ausência de amor. Ternura. Carinho.
Aquilo que fazia era salvaguardar a sua família.
Uma família inexistente e nada preocupada do bom nome deles.
Ignorava-o. Faziam de conta que nada se passava com eles.
Era duro e cruel um pai comportar-se daquela forma. Uma “doença”
da vida.
Quando o seu pai faleceu, partiu para o Brasil. Sim!
Recomeçando a sua infelicidade oculta e omissa dele. Escondendo-se de si.
Recomeçar uma existência nova que tudo esqueceria.
Para mim há sempre uma explicação existencial: Sofria com a
ausência da sua adorável mãe. Que o amparava. Ajudava-o. Auxiliava-o e acalmava-o,
como ninguém o faria.
Adolfo partiu. Para um lugar distante. Que vem no mapa da
vida e do Planeta.
Tive e tenho pena de haver perdido o seu paradeiro. Com a sua
Alma ferida. Magoada. Autónoma.
E, custava tanto. Era um rapazinho, igual a todos os outros
que viviam com alegria e boa disposição. Num tempo para existir em pleno e
somente para brincar.
Vivia com feridas no seu fantástico coração.
Um Coração bom.
Relembro este “episódio”, como me relembro de todos.
Nunca mais o vi. Apenas vejo a longa distância passada por
mim que ficou na minha memória.
Bem viva na minha sinceridade e seriedade.
Está concluído mesmo.
António Pena Gil
Sejam felizes, sim, amigos de sonho.