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Wednesday, November 01, 2017


A Minha Adolescência Abruptamente Interrompida Pelo Meu Adorável Pai!

(Recordações dele neste dia especial de todos os que já “partiram”).



Tinha eu cerca de dezoito anos e o meu irmão era um ano mais velho. O meu doce pai chegou perto de nós e disse, sem ser interrompido, hoje, daqui a duas horas, irão voar para Londres. Irão ficar lá uma semana.

Ficamos de boca aberta. Deu-nos poucas libras e, comunicou-nos que o Hotel, com direito ao pequeno-almoço, e a viagem de avião estavam pagas.

Quanto ao resto teríamos de nos “desenrascar” nós.

Tremíamos por todos os lados, mas, rapidamente, fizemos as malas e metemo-las no carro e partimos para o aeroporto da majestosa cidade que era o Porto.

O meu pai apertou-nos as mãos e, já no ar, sobrevoando aquela esbelta cidade pensamos que era uma “prova de fogo” para nos tornarmos homens mais cedo. Só podia ser.

A viagem correu bem até que foi referido pelos alto-falantes do avião que teríamos de trocar de Hotel por ter havido um engano. Ficaríamos instalados numa zona residencial, mais longe do resto das pessoas. Para tal dar-nos - iam o dinheiro do táxi e chegaríamos ao nosso destino que era o nosso hotel, facilmente. Não devíamos temer nada porque os táxis londrinos eram eficazes e seguros.

Sobrevoávamos agora a magnífica cidade de Londres.

Aterramos sem problemas. O acesso à pista foi extraordinário e de deslumbre.

Imediatamente, surgiu um pequeno veículo que nos transportou até ao aeroporto londrino, onde já nos esperavam os Senhores organizadores daquela estadia e de tudo o que nos conduziria ali.

Já tínhamos consultado o mapa de Londres e, depois de muita insistência nossa, deram-nos o dinheiro do táxi e explicamos-lhes que sabíamos o que fazíamos, mais barato, pois, não “nadávamos” em dinheiro.

A noite estava assombrosa. Chovia imenso.

Mesmo assim, metemo-nos no metropolitano desta encantadora cidade e só saíamos em Kings Cross, uma das zonas mais perigosas daquela cidade de Londres.

Pedimos e suplicamos a Deus que nos ajudasse.

Nunca largando um segundo de desatenção às grandiosas malas, saímos empunhando-as.

Lá fora estava um “ambiente de cortar à faca”

Pegamos, inseguros de nós, no mapa e nas malas e dirigimo-nos para o suposto Hotel.

De imediato vieram mesmo atrás de nós dois homens negros preparados para nos assaltar e levar o pouco que nós tínhamos. À “socapa” disse ao meu irmão que só havia uma solução: Quando chegassem ao pé de nós eu gritaria e inverteríamos em sentido inverso e, talvez eles não contassem com aquele gesto, nem com aquela atitude e desistiriam de nos roubar.

Assim foi. Gritei e corremos com as malas em sentido contrário. Ainda vieram no nosso alcance uns poucos de metros, mas cedo, desistiram.

Estávamos sós agora na imensa zona residencial londrina.

Os carros passavam a uma velocidade grandiosa. Chovia muito.

Os táxis não paravam.

Estava escuro. Só conseguíamos ver rapazes “encolhidos” nos umbrais das portas, uns com motos, outros, ameaçadores, sem moto, vestidos de fatos pretos de couro, com uma atitude agressiva e de provocação para nós e para as gigantescas malas.

Estávamos aflitos, sem saber o que fazer?

Encontrávamo-nos perdidos. Sabíamos pelos mapas que levávamos que o Hotel era perto dali.

Pensamos em conjunto como sair dali?

Estávamos encharcados. Cansados. Nunca temendo nada, mas ansiosos por descobrir o Hotel.

Ao virarmos uma esquina, ei-lo. Encontramo-lo, bem à frente da nossa vista.

Havíamos conseguido. Se o nosso querido pai nos tivesse visto agora rejubilaria de alegria.

Quando entramos no Hotel, todos aqueles rostos se viraram para nós, envergonhados que estávamos. Com uma postura de “meter dó”.

Imediatamente, subimos para o nosso quarto. Tomamos um duche e comemos um pouco do que levávamos.

Tínhamos acordado entre nós que se fosse necessário não dormiríamos para tomar o lauto “Breakfast” a que só tínhamos direito. Aquele pequeno-almoço era mais que completo.

Ao terceiro dia, vimos num anúncio na parede, de que atuavam os Renaissance no Theatre Vitoria perto da Estação de Vitória.

Foi uma experiência enorme. O grupo era visto por crianças, adolescentes, pessoas de meia-idade e até idosos. Todos sentadinhos naquele local de sonho.

Trouxemos LPs inéditos em Portugal. Ainda possuo alguns deles marcados em libras.

Também nunca falhamos um pequeno-almoço. A nossa salvação ali. Para os ingleses a mais importante refeição do dia.  Dadas as circunstâncias para nós também.

Conhecemos toda a cidade de “ponta a ponta”.

Nunca esqueci este “episódio” protagonizado pelo meu querido pai. Fomos Homens à pressa. Era o que ele desejava efectuar e fê-lo.

Neste dia, só expresso um desejo: Onde quer que estejas fica bem. Adoro-te. És e foste ímpar na minha vida. Como sinto orgulho em ti.

OBRIGADO, Querido Pai.

António Pena Gil



Sejam felizes, sim, amigos admiráveis?

Gosto muito de vós.