Não sinto nada!
Pela janela do espaço que ocupo entra uma luz difusa amarelada, que o enche. Conquista. Faz-me companhia!
Aconchego-me na tosca cadeira que me ampara. Ampara-me quando decido que deve exercitar a sua função de amparo. De aconchego. Em momentos eternos aprazíveis.
Fui à escola.
Não vi ninguém!
Qual a razão?
Não havia crianças! As suas marcas estavam lá! Eram visíveis! Um silêncio inquietante, por todo o lado, comprovava-o.
Fiz o que tinha a fazer e depois, fugi. Apressadamente.
Sem elas, a minha presença era dispensável. Decididamente dispensável.
Não veio ninguém atrás de mim.
Quando cheguei a casa senti um alívio. Estavam os meus dois filhos!
Depois?
Senti uma felicidade enorme. Reconfortante.
Afinal, aqui, podia manter bem viva a chama de vida e o desejo de pensar.
António Pena Gil - Dezembro de 2006