Sunday, July 01, 2018
O Meu Exame da Quarta Classe que era
meu e que não fiz!
Fizeram-nos Elas!
Nesse dia, em que ia fazer o meu exame da quarta classe. Levantei-me
muito cedo e esmerei-me o melhor que podia e conseguia.
Era um dia muito importante para mim e para aqueles rapazes
todos da minha idade.
A minha linda Mãe sossegou-me e disse-me que estava muito bem
assim. Vestido de forma aprazível e muito bela, aos seus olhos de mãe.
Sai de casa muito antes da hora marcada para o exame, onde
alguns rapazes da minha idade já se encontravam. Estavam vestidos a preceito de
gravata e fato a condizerem entre si.
A escola situava-se em frente ao Seminário Episcopal desta
cidade e chamava-se Escola Carvalho de Araújo.
Em breve tempo estavam todos lá. Aguardávamos pela chegada
das Senhoras Professoras que nos iam efetuar este exame importantíssimo.
Eu, no meu íntimo, ia para brilhar. Sabia tudo um que um Ser
Humano devia saber.
Mandaram-nos entrar. As Senhoras Professoras entrariam pela
porta das traseiras deste edifício decrépito, gasto e decadente, preste a cair.
Prestes a “sucumbir” e a tombar.
Quando já estávamos junto todos na sala chegaram as nossas
Senhoras Professoras de semblante austero e duro. Levantamo-nos de imediato e só
quando nos mandaram sentar é que o fizemos.
Quando as observei mais atenta e pormenorizadamente, reparei,
para minha incredulidade e admiração que eram a D. Fagundes e a D. Anastácia,
amigas da minha mãe. Fiquei todo a tremer. Fiquei aflito. Fiquei sem para onde
me escapar? E, se me pedissem um beijo, morreria de vergonha e de pronto
perante uma sala repleta de rapazes da minha idade. Senti medo. Senti um pânico
total e absoluto. Por mim, desejava “morrer” ali mesmo, mas era ainda tão novo.
Fugir para parte incerta onde não me encontrassem nunca mais.
Os exames iam prosseguindo até que chegou a minha vez. Pediram-me
para ler e leram elas. Pediram-me para contar e contaram elas. Pediram-me
assuntos de Meio Físico e responderam elas.
Quando terminei em cinco minutos o meu exame que era meu,
fizeram-no elas. E, ainda, por cima e, incredulamente saí com a nota de Excelente
com Distinção.
E, eu que ia ali para brilhar? E, eu que me tinha preparado
para este exame há imenso tempo?
Quando cheguei a casa fechei-me no meu quarto e chorei,
chorei, chorei. Não tinham esse direito. O Exame era meu. Fizeram-no a elas o
meu exame.
Quando a minha mãe regressou a casa do “trabalho” contei-lhe
tudo. Emitiu um sorriso afável e doce para mim. Agradeceu a Deus o filho que
tinha.
Ainda, me perguntou se lhes tinha dado um beijo que não
respondi. Naquela exata altura eu senti uma alegria imensa. Ao menos não lhes
dei um beijo que seria aminha morte e o meu descrédito de todos ali.
Por fim, adormeci
Foi O Meu Exame
da Quarta Classe que era meu e que não fiz! Fizeram-no Elas!
António Pena
Gil
Obrigado.