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Campanha do Agasalho 2009

Thursday, March 30, 2017



Amável Diário:
Hoje fui à Padaria. Sim! Com pressa de ser atendido. Uma Senhora bem-posta passou-me à frente. Olhei e silenciei-me. Aquele acto não me trouxe nada de novo. Sim, adorável diário, devia-lhe chamar a atenção. Não! Não o fiz. Se calhar ela vivia a correr. Tal como eu. Prezo-me de ser uma pessoa e ser humano também.
Gosto de motivações para existir. Ser. Fiz o que me levara ali depois.
Olhou-me, ainda, de alto a baixo e emitiu um som inaudível. Sim! Nada agradável. Coitada, também não tenho razões de estar sempre sério. Parece que avanço na idade. Quando sorrio pareço diferente. Mais credível. Mais presente. Mais agradável na postura com as pessoas.
Ofereci flores à minha cara-metade e à minha mãe. Comportavam um bilhete que dizia: - Com muito amor!
Para as levar da loja era mais difícil.
A Senhora das flores meteu-as cuidadosa e meticulosamente num saco sem as estragar. Deram-lhe muito valor quando as entreguei a cada uma das minhas eleitas Senhoras de sonhar. Sim, amável Diário, gostam de mim.
De seguida e, em passo apressado, fui dar uma volta. Sabem, também tenho regras e deveres como ser humano/cidadão/Pessoa..
Na rua. Em plena rua, as pessoas que passavam sorriam para mim. Retribui e sorria também. Parecia uma competição de sorrisos. Bons. Sinceros. Vivos. Presentes.
Respirados. A correrem com pressa nunca soube porquê? Talvez, fosse uma forma de viver. Existir. Sentir pressa sem pressa nenhuma..
Sabes, amável Diário, não gosto que me olhem de alto a baixo. Parece que me estão a estudar. Sim! Para avaliarem o meu desempenho na vida. Na magia da vida. Não gosto mesmo nada. Quando o fazem, pareço transparente, revelando tudo o que sou. Tudo o que não sou. Parece sempre que estou a ser alvo de uma derrota abismal no meu estar. Não deviam fazê-lo, sabes?
É que vivo de atrapalhações. Aflito. Preocupado. Ausente. Nunca revelável a ninguém. Talvez, seja um mistério por apurar. Que deseja ser descoberto, mas não pode sê-lo.
Como gosto de enigmas na vida, meu Deus. Enigmas por descobrir. Por ser respeitado porque respeito.
Tinha pressa, Diário simpático. Acabei.
És um tesouro para mim.
Até amanhã. Contei-te o meu dia. Desculpa ser a correr, sim?
Cumpri a prescrição médica. Pronto.
Muito obrigado, amigos.
Sejam felizes, está bem?
António Pena Gil