Thursday, June 28, 2018
Quando A Minha Avó “Partiu” Senti Uma Enorme Tristeza.
A minha família era feita de Marias. Maria Relvas, Maria Natália, Maria
Pena.
Havia mais, mas a lembrança delas “é-me fugidia” do pensamento porque eu
era uma criança. De escassa idade.
Relembro a sala da minha avó. Era grandiosa. Encontrava-se dividida.
Constavam de uma mesa grandiosa e numa outra “salinha”, mesmo ao lado e
adornada de janelas interiores com vidros onde a minha avó se acomodava e podia
visualizar o que se passava no seu exterior.
Com saudades relembro-me, rastejando, “pregado” ao solo, como nas
trincheiras cavadas para com a segurança numa guerra abominável, para ir às
bolachas sem ela se aperceber.
Ouvia barulho do nosso peito movimentando-se no chão da sala e proclamava:
- Aí há “ratos.” E, sorria para o seu interior maravilhoso e terno.
“Isso” não nos dissuadia de continuar na nossa busca e em lugar calmo comer
as bolachas, sem parar e sem a presença dela.
Outra “coisa” que me relembra passava-se na sala onde a minha avó se encontrava.
Contávamos os carros, anotávamos os seus nomes e a matrícula que passavam na
grandiosa avenida vista daquela janela.
Fazíamos a missão dos “cantoneiros”, lembram-se?
Se a polícia ou outra entidade de autoridade nos perguntassem, sabíamos
tudo. Tudo mesmo.
Relembro-me de mais “coisas”, mas essas fazem parte do memorial familiar
impossíveis de divulgação. São pessoais e intransmissíveis.
Como adorava aquela avó? Era “cúmplice” em tudo connosco e existia e vivia
nessa cumplicidade com alegria e bem-estar para connosco.
Sentia-se bem. Agradavelmente.
Quando A Minha Avó “Partiu” Senti Uma Enorme Tristeza.
Fico-me sempre retida no meu pensamento e no meu olhar
Que saudades avó.
António Pena
Gil