Monday, May 01, 2017
Diário Pessoal:
Primeiro adorava a noite.
Era seu cúmplice. Agora, vivo de insónias crónicas constantes que me perturbam.
Todo o meu ser. A escuridão dos objetos assustam-me. Mexem ao ritmo certo do
que anseiam ser. Mesmo, sem permissão ou
concessão. Permitido. Aceite. Detesto-a porque está imersa num escuro
grandioso. Sem visão adicional ou prespetivas de auxílio na sua contemplação
necessária e visível. Porque me faz ela isto? Tenho raiva. Tenho fúria. Tenho
força para acabar com a noite. Não se ouve nada. Nem o sibilar de algum pássaro
amigo. Uma mosca. Um mosquito. Qualquer inseto incomodativo e nocivo. Nefasto.
Olho tudo à minha volta com atenção aos pormenores dos lados e em frente. As
laranjas na mesa apelam ao fim a que se destinaram. As maçãs também. Esta fruta
toda não fica ao acaso. O Sr. Gonçalves encarrega-se de comê-las fazendo
barulho com a boca a mastigar a bom som, nada ético ou cívico quando as digere,
mastigando alto. Que coisas de nada da vida. Como sinto vontade de abrir as
persianas e deixar entrar o seu escuro e a sua negritude janela adentro. Como
carvão ardendo ao ritmo do estar. Sentir. Ser. Faria barulho. Estou aqui às
escondidas e fácil e prontamente me descobririam se encetasse qualquer atitude
ou gesto mais ruidoso ou mais alto nos decibéis de som. Veriam o mistério
existencial do que abarquei. Do que sou e sinto. Que impertinência, a noite!
Nunca mais é dia. Olho o relógio e assola-me uma inconformação grandioso. Estamos
no início dos mistèrios do escuro da noite. Da sua negritude plena. Eu? Não!
Não posso fazer nada. Só me resta olhar e olhar sem exigir ou descobrir
misteriosos episódios da noite. Sim! Com verdade e sinceridade. Tenho Pânico.
Tenho um pavor grandioso. Caramba, nunca mais é dia? Detesto e condeno, a
noite! E, se fosse para a cama desperto e acorda-se tudo e todos? Não poderia
fazer isso. Acordava a minha gente que ficaria furiosa. Os vizinhos que apontam
sempre o dedo inconveniente e doentio para aqui. E, não resolveria nada de
nada. Prefiro a sua aceitação plena e total. Fico quietinho. Não faço nada. Apenas,
necessitei pular. Dançar sem música. Podendo ver Porto-me muito mal. Estou
irritado.Na minha frente vejo fantasmas e brincar com esses fantasmas que nunca
vi aqui. Ou por perto. Deviam ter vindo do Firmamento. São esquisitos. Nem uma
simples ponta de beleza se encontra neles. Parecem bichos. Tento aproximar-me
deles. Fogem de imediato. Cobardes. Fico triste. Iríam por certo contar-me a
sua vida que facilitaria passar a noite.
Não tenho muito a contar.
Desisto.
O crepúsculo da manhã
assola-me com ternura e carinho.
Passou mais uma noite.
Sejam felizes, sim?
António Pena Gil